Para clicar e ir ouvindo enquanto se reflecte sobre o assunto.
Esta é a brilhante música que os "La Oreja de Van Gogh" criaram para homenagear as vítimas do Atentado de 11 de Março em Madrid.
Já foi há seis anos... mas há que coisas que ficam presentes para sempre.
Acordei naquele dia 11 de Março de 2004 muito cedo num Hotel Albicastrense. Duas reuniões de manhã, almoço em Espanha, mais reuniões de tarde e regressar a casa. Liguei a Tv ainda no quarto e as primeiras informações, muito confusas, alertavam para que algo de muito errado se tinha passado na Estação de Atocha, Madrid. Não percebi muito bem o que tinha acontecido. Pouco depois do pequeno-almoço subo novamente ao quarto e aí as informações já eram muito mais claras. Tinha havido um atentado (da ETA, aventava-se erroneamente) nessa Estação. Mas a informação ainda assim era escassa.
Durante a reunião da manhã lembro-me de estar a pensar em tudo o que poderia ter acontecido, e que queria ir para algum sítio onde pudesse ter mais informação.
Já na estrada, a caminho de Espanha as informações que as rádios debitavam davam já a real dimensão da dura realidade.
SONI!!!!!!!!!!
SONI! Páro o carro e peguei a tremer no telemóvel tentando encontrar o número dela. SONI!
Do outro lado, nada. Nem tocava.
Calma, pensei. É natural. Com uma catástrofe desta dimensão as antenas devem estar mais que sobrecarregadas. Está tudo bem, de certeza.
Mas a angústia não passava. Já em Espanha, a consternação dos rostos de todos por quem passava, as imediatamente postas bandeiras a meia-haste, o silêncio nas ruas fazia tudo pesado. Muito pesado.
Consegui falar com ela. Estava bem. A viagem que ainda hoje faz diariamente até Madrid é para a Estação de Chamartín e não para a de Atocha. Estava muito assustada. A cidade estava em estado de sítio e paradoxalmente mergulhada num estranho silêncio apenas interrompido pelas sirenes de ambulâncias, bombeiros e polícia.
Ela estava bem.
Mas outros não. Eu não conhecia ninguém. Ela cohecia. Mas para mim era como se conhecesse cada um dos que sucumbiram naqueles comboios, naquela estação.
Raio de Cobardes de Merda, que não são homens suficientes para dar a cara. Ratazanas terroristas sem rosto. Que são os piores, os mais perigosos. Não se pode corajosamente combater quem cobardemente esconde o rosto.
E ainda hoje penso nos milhares de sonhos, nos milhares de planos que deixaram de se realizar naquele momento. Naquele dia.
Aquele que ia para o seu primeiro dia de trabalho, perfumado e contente. Aquela que ia visitar uma amiga que já não via há anos, aquele que ia para uma reunião importante, aquela que ia a uma consulta, aquele que ia saber um resultado de um concurso, aquela que ia para a escola, aquele que ia finalmente passear por Madrid, aquela que ia comprar um brinquedo novo para o filho, aquele que ia ver o outro ao hospital. Sei lá. Eram todos de carne e osso como eu, imbuídos nos pensamentos de quem está mesmo a chegar ao seu destino, vai começar o seu dia, vai continuar com a sua vida.
Mas o destino chegou antes deles, o dia não começou e a vida, essa, acabou.
In Memoriam
Esta é a brilhante música que os "La Oreja de Van Gogh" criaram para homenagear as vítimas do Atentado de 11 de Março em Madrid.
Já foi há seis anos... mas há que coisas que ficam presentes para sempre.
Acordei naquele dia 11 de Março de 2004 muito cedo num Hotel Albicastrense. Duas reuniões de manhã, almoço em Espanha, mais reuniões de tarde e regressar a casa. Liguei a Tv ainda no quarto e as primeiras informações, muito confusas, alertavam para que algo de muito errado se tinha passado na Estação de Atocha, Madrid. Não percebi muito bem o que tinha acontecido. Pouco depois do pequeno-almoço subo novamente ao quarto e aí as informações já eram muito mais claras. Tinha havido um atentado (da ETA, aventava-se erroneamente) nessa Estação. Mas a informação ainda assim era escassa.
Durante a reunião da manhã lembro-me de estar a pensar em tudo o que poderia ter acontecido, e que queria ir para algum sítio onde pudesse ter mais informação.
Já na estrada, a caminho de Espanha as informações que as rádios debitavam davam já a real dimensão da dura realidade.
SONI!!!!!!!!!!
SONI! Páro o carro e peguei a tremer no telemóvel tentando encontrar o número dela. SONI!
Do outro lado, nada. Nem tocava.
Calma, pensei. É natural. Com uma catástrofe desta dimensão as antenas devem estar mais que sobrecarregadas. Está tudo bem, de certeza.
Mas a angústia não passava. Já em Espanha, a consternação dos rostos de todos por quem passava, as imediatamente postas bandeiras a meia-haste, o silêncio nas ruas fazia tudo pesado. Muito pesado.
Consegui falar com ela. Estava bem. A viagem que ainda hoje faz diariamente até Madrid é para a Estação de Chamartín e não para a de Atocha. Estava muito assustada. A cidade estava em estado de sítio e paradoxalmente mergulhada num estranho silêncio apenas interrompido pelas sirenes de ambulâncias, bombeiros e polícia.
Ela estava bem.
Mas outros não. Eu não conhecia ninguém. Ela cohecia. Mas para mim era como se conhecesse cada um dos que sucumbiram naqueles comboios, naquela estação.
Raio de Cobardes de Merda, que não são homens suficientes para dar a cara. Ratazanas terroristas sem rosto. Que são os piores, os mais perigosos. Não se pode corajosamente combater quem cobardemente esconde o rosto.
E ainda hoje penso nos milhares de sonhos, nos milhares de planos que deixaram de se realizar naquele momento. Naquele dia.
Aquele que ia para o seu primeiro dia de trabalho, perfumado e contente. Aquela que ia visitar uma amiga que já não via há anos, aquele que ia para uma reunião importante, aquela que ia a uma consulta, aquele que ia saber um resultado de um concurso, aquela que ia para a escola, aquele que ia finalmente passear por Madrid, aquela que ia comprar um brinquedo novo para o filho, aquele que ia ver o outro ao hospital. Sei lá. Eram todos de carne e osso como eu, imbuídos nos pensamentos de quem está mesmo a chegar ao seu destino, vai começar o seu dia, vai continuar com a sua vida.
Mas o destino chegou antes deles, o dia não começou e a vida, essa, acabou.
In Memoriam
Uma homenagem tocante.
ResponderEliminarAcho que este é um dos meus maiores medoa,que um dia a vida deixe de ser como ela é, assim num minuto.
ResponderEliminarUm abraço*
PS - Bingo!
Também me lembro com uma arrepiante clareza de tudo nesse dia e do dia 11 de Setembro. Não há praga maior e mais podre que o terrorismo, aliás o nome diz tudo.
ResponderEliminarFico contente por estares In The House.
Confesso, hoje já são 12 e ontem não me lembrei de Atocha, lembrei-me do nosso 11 de Março.
ResponderEliminarGostei da sua homenagem, mostrando mais uma vez como é uma pessoa sensível e preocupada com os outros, quer sejam conhecidos, quer não.
Abracinho
e a historia de Alice, lá continua....
ResponderEliminarno
... continuando assim...
mais logo, um novo capítulo
um obrigada a quem segue (porque só vale a pena assim).
Um especial convite, para quem ainda não mergulhou naquela história.
...é só uma história, apenas isso.
obrigada
e até logo
Bj
teresa
Rosa Negra:
ResponderEliminarNão sei se a mensagem é tocante, mas que aquele dia me tocou profundamente... lá isso tocou. Até hoje.
JS:
ResponderEliminarÉ arrepiante pensar nisso, não é? Um segundo e... pufff. Por isso há que viver a vida intensamente.
P,S.: Isso explica muita coisa...
Ana C:
ResponderEliminarO Terrorismo é uma maneira fantástica que se arranjou de nos nossos dias pairar sempre uma nuvem de medo e horror. E temos que começar a dizer BASTA.
Maria Teresa:
ResponderEliminarMuito obrigado pelas suas sempre lisonjeiras palavras.
Teresa:
ResponderEliminarMuito obrigado pelo convite.´Vale MUITO a pena.
Brilhante, como sempre.
Explica muita coisa...
ResponderEliminarEstou a morrer de curiosidade!!!
O terrorismo não se explica mas, infelizmente, sente-se!
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