segunda-feira, 15 de julho de 2013

Romeiros

Daqui vejo-os passar todos os dias da semana. Já lá vão quase três anos. Os romeiros.

No início eram só dois, os coitados.
Depois começou a chegar mais família, a desgraçada.
Nasceram filhos, os pobres.
E todos os dias é a mesma romaria, tristes.
Cerca das dez e meia da manhã, madrugadores.
Passam para lá, cabisbaixos.
Cerca do meio-dia passam para cá, apressados.
Depois, lá pelas suas duas e meia, voltam para lá, a trote.
Por fim, lá por volta das suas quatro da tarde voltam, exaustos.
Todos os dias. Todos os dias.Todos os dias.
E cada vez mais, multiplicados.
Agora são pais, tios, sobrinhos, afilhados, vizinhos, padrinhos, amigos ou não, não sei.
Todos os dias para lá, todos os dias para cá, enfim.
Um dia tive curiosidade para onde iam, estúpido.
E segui-os discretamente, otário.
E afinal sentam-se todos juntos, qual acampamento nómada, organizados.
E pedem, pedincham, choram, gritam, desvalidos.
E as mulheres metem a mama de fora para publicamente amamentar as crias, infelizes.
E os homens fazem expressões de dor e de pobreza, desafortunados.
E as moedas vão caindo, tilintando.
E quem não dá nada é insultado, bem-feita.
E quem nada dá leva com uma maldição, pois claro.
Pobres romeiros. Em português só sabem pedir, naturalmente.
Tudo somado, recebem em subsídios da Segurança Social quase mil e quinhentas notas por mês, míseros.
E eu assisto à quotidiana romaria, imbecil.
E percebo que assim não vamos a lado nenhum,  néscio.



2 comentários:

  1. Fossem apenas esses... Mas há tantos e tão mais "gordos"!!

    Beijinhos, "Disse"! Gosto muito de te ver regressar! :)

    ResponderEliminar
  2. Partilho dessa tua "adoração". ( e olha que me ensinaram a amar e respeitar o próximo...mas tudo tem limites!)

    ResponderEliminar