Faz hoje, agora, precisamente 16 anos. Foi às 0h00 do dia 7 de Maio de 1994. Sexta-feira, como se impõe, como sempre foi, como penso que sempre será. Ouvia, a medo, no meio de tantos outros milhares de "morcegos" os primeiros acordes das guitarras portuguesas que ecoavam no largo da Sé Velha para a Serenata Monumental que haveria de dar início à Queima das Fitas. Desde o primeiro minuto senti que o meu lugar era ali. A velha academia recebia-me. De braços abertos. O Fado de Coimbra entrava em mim e fazia-me vibrar. Vi gente a chorar, e na altura não percebia porquê, vi gente apática, histérica, alcoolizada, sempre sem perceber porquê. A cada dia do meu percurso académico fui percebendo, e lembro-me que na minha última Serenata Monumental também chorei, também estive apático, histérico e alcoolizado. Tudo num mesmo momento. Ou não, que o Fado tem destas coisas e compartimenta emoções.
quinta-feira, 6 de maio de 2010
Faz hoje 16 anos
quinta-feira, 15 de abril de 2010
Aquele que tem nome de planeta já está na Europa
Aquele que tem nome de planeta foi encontrado há muitos anos nas ruas de Cotonou, abandonado como tantas outras centenas de crianças com tenra idade por ali. Por nao haver dinheiro para as sustentar, por não terem ainda força suficiente, ou simplesmente porque não cabem naquilo a que chamam "casa".
Foi recolhido por frades franciscanos que têm um projecto de acolhimento e desenvolvimento. Daqueles que não são pedófilos (que os há e tantíssimos), que há mais de 20 anos deixaram a sua Europa e não regressaram e provavelmente nem as suas cinzas para cá voltarão. Daqueles que abraçaram a sua vocação e a incorporaram no dar a vida pelos outros. Uma missão de vida e para toda a vida.
Aquele que tem nome de planeta cresceu naquele centro de acolhimento, aprendeu um ofício, tornou-se educador dos mais novitos que iam chegando. Ali naquele centro pode durante muitas semanas não haver carne ou legumes frescos, mas não falta afecto, amor e um sentimento de protecção e fraternidade. Um lar.
Aquele que tem nome de planeta está doente. E graças a uma pessoa que foi como voluntária para lá durante uns meses, agora está na Europa para lhe serem feitos exames, intervenções cirúrgicas e os tratamentos que necessitar.
Mas nem tudo são rosas para aquele que tem nome de planeta.
Para lhe darem o visto e ser autorizado a sair do seu país até um ministro do Benim telefonou pessoalmente para o Hospital a fim de saber se era verdade que os exames estavam marcados.
Aquele que tem nome de planeta tem uma doença estranha e rara. Dizem que são tumores, mas que em teoria não são malignos pois com sete anos consecutivos de bolsas de carne a sairem do corpo, se fosse maligno já estaria morto.
Está em Espanha. Tudo é estranho. Tudo é confuso.
E nas primeiras duas semanas tem sido muito complicado. Está numa casa particular, da voluntária, e tudo é muito estranho. É como ter uma criança e um idoso com alzheimer na mesma pessoa.
De um primeiro momento de susto e medo pelo tamanho dos prédios, pela quantidade de carros , sons e odores completamente novos, estranhos, e nem todos bons, até ao caos organizado do quotidiano urbano. Tudo é novo e assustador.
E é ter que explicar que não é magia nem produto diferente da fatia de pão que se coloca numa torradeira o que de lá sai.
É explicar que não são as paredes que se movem, antes uma caixa onde cabe gente dentro que é elevada ou descida de alturas diferentes para facilitar a mobilidade. E que não vai acontecer nada de mal naquele cubículo. E que se chama elevador.
É ter paciência infinita para explicar o que são e qual a diferença entre um frigorífico e uma máquina de lavar a louça. E entre esta e a máquina de lavar a roupa. E que não, não é a melhor solução meter os cereais (que servem para comer, aquelas partículas estranhas) dentro da máquina de lavar a louça e que não vale a pena pôr panelas e roupa suja juntas.
E é ver um sofrimento humano, contido numa débil condição física que mesmo aprendendo a vida da ocidental Europa à velocidade da luz, sente falta dos cheiros e das vistas de África. De alguém que não ousa sair sozinho de casa com medo do que este louco mundo lhe pode fazer lá fora. E assim, cirandando entre quatro paredes, no silêncio do sofrimento na carne, começa a sentir a dor na alma - mais difícil de domar e que nenhum analgésico consegue diminuir - e ora se refugia nos braços de morfeu durante horas sem fim, ou qual criança, goza da magia de uma "play station" que não percebe como funciona mas o que interessa é que há uma vida ali que o faz esquecer a vida real.
Aquele que tem nome de planeta já fez análises, biópsias, exames, no meio de curandeiros estranhos que não cantam nem dançam enquanto estão à sua volta. Num ambiente totalmente asséptico mas muito pouco ascético, sem fogueiras nem animais, sem sol, sem mar.
Aquele que tem nome de planeta está à espera dos resultados a qualquer momento.
Aquele que tem nome de planeta está à espera que os curandeiros esquisitos ditem a sua sentença. Que seja qual for, quererá cumprir no chão da sua terra, com os cheiros com que nasceu, debaixo do sol que o fez ser como é.
Hoje é só isto
O Combustível não pára de aumentar e o litro do gasóleo chegou a €1,20.
Dizem que é por causa do aumento do preço da matéria prima.
Da última vez que o gasóleo esteve a este preço, o barril de petróleo custava $135
O preço do barril de petróleo está hoje a $85
A Autoridade da concorrência continua a insistir que não há cartelização nem concertação de preços.
Resultado: Já conseguiram chamar-me burro, otário e estúpido de maneiras muito mais inteligentes. Andam a perder qualidades....
terça-feira, 13 de abril de 2010
Já tenho de parte 67 cêntimos
Chiça! Já não há pachorra!
segunda-feira, 5 de abril de 2010
O GPS (Gente Parva, Seguramente)
Ao que parece não ter GPS no carro hoje em dia é o mesmo que não ter casa ou não ter roupa interior lavada.
- Tu, com os milhares de Km que fazes, NÃO TENS GPS? NÃO ACREDITO.... (esgares de espanto/pânico/incredulidade).
Ora bem, a verdade é que não tenho. Confesso que o último telemóvel que comprei tem GPS integrado, e até achei piada à coisa. Até decidir experimentá-lo algumas vezes em situações em que ele, hipoteticamente, seria da mais extraordinária utilidade. Pois bem, queria eu em Lisboa ir para o Paço do Lumiar e dou comigo a percorrer ruas em contramão, a chamar nomes ao objecto por me mandar virar em sítios onde não havia cortadas, a sair em rotundas que não existiam.... na Portela de Sacavém.
Pois bem, eu não digo que o instrumento seja absolutamenente odioso. Provavelmente há é incompatibilidades entre mim e o bicho.
Ora vem também isto à colação na medida em que há uns meses, com uma colega, a ideia era estar em Barcelos às 9H30 da madrugada. Vamos no meu ou no teu carro? Fomos no dela ("Sim, porque tenho Via Verde E GPS!!!!).
E lá fomos nós, com o pequeno electrodoméstico a debitar a voz da Carla Rocha - sim, a moça da RFM quem eu nunca pensei ser capaz de prestar estes serviços - por esse Minho fora, mas cá me quer parecer que a boa da moça tinha tido um jantar "pesado" na véspera (Ó Carla, isso foi das misturas), pois só assim consigo perceber também termos andado às voltas ao comando da voz da Carla Rocha (Carla, este cheiro no carro é o teu bafo a gin?), passando por sítios onde Deus nunca esteve, (Ó Carla, que raio andaste tu a beber?) para darmos connosco em ESPOSENDE a ver o mar. Foi aí que decidi que bastava e fui perguntar a um café quer a direcção certa, quer pedir uma água das pedras bem fresca para a pobre da Carla, que já estava rouca e seguramente a ressacar.
Ainda ontem constatava que a maioria dos carros que me ultrapassava na A2 tinham GPS e estava ligado! Mas por favor, alguém que já tenha dado com a entrada da A2 (ou outra Auto-estrada qualquer) precisa de fazer umas centenas de Kms com aquilo ligado PARA QUÊ? Se há sítios com indicações neste país são as auto-estradas.
E assim persistirei na minha teimosia de não adquirir um brinquedo desses, e andando como sempre, meio perdido, meio achado, e quando tiver que ser, encosto e dou-me ao puro prazer de uma arte, quiçá desporto nacional que se está a perder que é o do "SÁCHAVOR... para X?", sabendo que posso ouvir desde as indicações mais precisas, passando por um "vira ali ao pé da casa da jacinta que agora já não está com o Teotónio pois ele foi para A França e não voltou diz-que arranjou lá uma sirigaita que é prima do manel do talho que é onde vira logo à esquerda e uns metros à frente quando vir o Joaquim perdido de bêbado encostado ao semáforo pois anda assim desde que descobriu que o filho anda metido na droga vira à sua direita e CONTROLA a rotunda e sai na segunda ao pé da casa da ti prudência que coitada já não tem para os medicamentos que eles são uns gatunos uns ladrões e ela trabalhou a vida inteira e agora é isto", até ao derradeiro "Vai para o Car***, ó pá!"
SIC ITVR IN URBEM....
quinta-feira, 1 de abril de 2010
sexta-feira, 26 de março de 2010
É capaz de ter aprendido
Eu - Boa Noite!
Ela - .......
- Desculpe, já não há o sumo xpto?
- .......
- Há! Está mesmo à sua frente! Não se importa?
- ......
- Desculpe-me, só há este?
- ......
E ouço uma voz:
- Eu não sou muda!
- Então desde já fica a saber o que é e o que lhe resta ser na sua humana condição.
E juro que no meu imaginário ouvi uma ovação em pé enquanto sumia calmamente corredor fora.
É capaz de ter aprendido.
sexta-feira, 19 de março de 2010
O Gajo anda mesmo deprimido (ou o primeiro dia do resto da minha vida)
Pois é. Algum dia tinha que acontecer.
Desde que há uns anos assumi a minha metrosexualidade (e sim, confirmo que nós, metrosexuais cuidamos da nossa aparência, compramos e usamos bons produtos quer a nível de roupa, quer a nível de higiene, perfumaria e cosmética masculina. Sim, frequentamos healht clubs e temos muito cuidado com a alimentação. Sim, adoramos entrar e gozar um bom tratamento num SPA). Tudo isto tem por premissa não propriamente o efeito perante quem vê (também muito importante), mas sobretudo, no que a mim me diz respeito, o sentir-me bem comigo mesmo.
Por uma questão não só de estilo (dizem que fica bem), mas honestamente por comodidade, a minha barba tem sempre alguns dias.
Mas há coisas que são inevitáveis, há coisas que nem os cuidados pessoais nem a cosmética conseguem evitar.
Há desilusões que nos batem como se fosse um murro bem dado nas fuças.
Há sensações únicas de um momento que nos marcarão para o resto da vida.
Há surpresas desagradáveis, inevitáveis é certo, mas que nunca pensamos que nos vão acontecer.
E de um momento para o outro, assim sem aviso, as coisas acontecem. E não se sabe o que fazer, não se sabe como reagir. Fica-se sem forças, sem ideias, tudo parece que se vai precipitar a partir daí.
O que será a partir de agora? Mil ideias por segundo surgem, desde as que parecem mais estúpidas às mais brilhantes. Mas no fim, o mesmo vazio, o mesmo silêncio, a sensação de impotência, a força do que tem mais força do que nós.
Hoje, na minha barba de 4 dias, encontrei o meu primeiro pêlo branco.
quinta-feira, 11 de março de 2010
6 anos que não se podem esquecer
Esta é a brilhante música que os "La Oreja de Van Gogh" criaram para homenagear as vítimas do Atentado de 11 de Março em Madrid.
Já foi há seis anos... mas há que coisas que ficam presentes para sempre.
Acordei naquele dia 11 de Março de 2004 muito cedo num Hotel Albicastrense. Duas reuniões de manhã, almoço em Espanha, mais reuniões de tarde e regressar a casa. Liguei a Tv ainda no quarto e as primeiras informações, muito confusas, alertavam para que algo de muito errado se tinha passado na Estação de Atocha, Madrid. Não percebi muito bem o que tinha acontecido. Pouco depois do pequeno-almoço subo novamente ao quarto e aí as informações já eram muito mais claras. Tinha havido um atentado (da ETA, aventava-se erroneamente) nessa Estação. Mas a informação ainda assim era escassa.
Durante a reunião da manhã lembro-me de estar a pensar em tudo o que poderia ter acontecido, e que queria ir para algum sítio onde pudesse ter mais informação.
Já na estrada, a caminho de Espanha as informações que as rádios debitavam davam já a real dimensão da dura realidade.
SONI!!!!!!!!!!
SONI! Páro o carro e peguei a tremer no telemóvel tentando encontrar o número dela. SONI!
Do outro lado, nada. Nem tocava.
Calma, pensei. É natural. Com uma catástrofe desta dimensão as antenas devem estar mais que sobrecarregadas. Está tudo bem, de certeza.
Mas a angústia não passava. Já em Espanha, a consternação dos rostos de todos por quem passava, as imediatamente postas bandeiras a meia-haste, o silêncio nas ruas fazia tudo pesado. Muito pesado.
Consegui falar com ela. Estava bem. A viagem que ainda hoje faz diariamente até Madrid é para a Estação de Chamartín e não para a de Atocha. Estava muito assustada. A cidade estava em estado de sítio e paradoxalmente mergulhada num estranho silêncio apenas interrompido pelas sirenes de ambulâncias, bombeiros e polícia.
Ela estava bem.
Mas outros não. Eu não conhecia ninguém. Ela cohecia. Mas para mim era como se conhecesse cada um dos que sucumbiram naqueles comboios, naquela estação.
Raio de Cobardes de Merda, que não são homens suficientes para dar a cara. Ratazanas terroristas sem rosto. Que são os piores, os mais perigosos. Não se pode corajosamente combater quem cobardemente esconde o rosto.
E ainda hoje penso nos milhares de sonhos, nos milhares de planos que deixaram de se realizar naquele momento. Naquele dia.
Aquele que ia para o seu primeiro dia de trabalho, perfumado e contente. Aquela que ia visitar uma amiga que já não via há anos, aquele que ia para uma reunião importante, aquela que ia a uma consulta, aquele que ia saber um resultado de um concurso, aquela que ia para a escola, aquele que ia finalmente passear por Madrid, aquela que ia comprar um brinquedo novo para o filho, aquele que ia ver o outro ao hospital. Sei lá. Eram todos de carne e osso como eu, imbuídos nos pensamentos de quem está mesmo a chegar ao seu destino, vai começar o seu dia, vai continuar com a sua vida.
Mas o destino chegou antes deles, o dia não começou e a vida, essa, acabou.
In Memoriam
quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010
Notas de uma viagem VII, IX, X, XII.... ad nauseam....
Digama, Stigma, Zeta, Etá..... Sampi.
FAVOS DE MEL.... OU FAVOS DE FEL
Foi aqui na praia do forte, neste cabo que de facto é mais frio que o Rio, que a presença colonial se fez presente. Temperatura fenomenal, água suficientemente quente, um dia perfeito.
Hummm.... algo caseirinho, não?
Há paredes que falam, mas há embarcações que se abrissem a boca, encheriam todo um mar com palavras.
Sem comentários, mas ela consegue voar sobre o mar.
Despeço-me da Praia do Forte e de Cabo Frio.
Vou até Búzios.
BÚZIOS
É aqui que em teoria se respiram telenovelas brasileiras. Respirei beleza natural exacerbada, mas muito sovaco mal lavado também, mas isso acho que não dá para sentir na TV.
E mais uma vez, a cada canto uma surpresa. É o mal de andar com os olhos abertos.
O MARACANÃ
Palavras para quê?
SEMPRE A OLHAR PARA ONDE NÃO É SUPOSTO
PETRÓPOLIS - A CIDADE IMPERIAL
Onde raio estou? Isto é América do Sul? Isto é Brasil? Andei a beber coisas esquisitas?
Palácio Imperial
NITERÓI
Niterói fica "do lado de lá" do Rio. Confesso que só lá queria ir para poder ver ao vivo e tocar numa das grandes obras do Mestre Niemeyer, mas o que vi foi muito mais que arquitectura fantástica do Homem, foi arquitectura genial do Criador.
A fabulosa obra de Niemeyer, o MAC - Museu de Arte Contemporânea.
O CENTRO DO CAOS OU O CAOS DO CENTRO
Uma metróple da América do Sul, sem mais.
IPANEMA (SUSPIRO MUUUUITO LONGO), onde me perdi "em busca da bunda dourada".
PEQUENOS SEGREDOS DE UMA MUITO GRANDE CIDADE
Perdido numa travessa escondida, sem referências turísticas ou meramente indicativas, encontrei uma "jóia da coroa"- O "Real Gabinete Portuguez de Leitura". O típico e deslumbrante Manuelino engavetado num buraco. Mas o interior....
.... fala por si......
São já as saudades ou isto TAMBÉM me parece vagamente familiar????
O dia já amanhece na velhinha Europa. Até já, Brasil!
E foi, em muito poucas palavras e muito poucas fotografias (um grão de areia das mais de 1200 que tirei e pouco mais que duas páginas das dezenas de manchas de tinta que ocuparam o meu caderno de papel pardo). Fica muito por dizer, muito por mostrar, mas quem sabe se mais tarde, sem nada que o anuncie, não volte uma ou outra fotografia, um ou outro textito.
Obrigado pela paciência.