está a ser de merda, mesmo, mas assim o título não choca tanto. Ora vamos lá ver: Desde o primeiro minuto de olhos abertos que o dia tem sido de merda (e não uma merda, que é coisa diferente). Aliás, agora que faço o exercício de retrospecção, tudo já deve ter começado durante a noite, pois acordei variadíssimas vezes por causa dos estúpidos sonhos que estava a ter e que incluiam incêndios em sítios diferentes e eu sempre com o mesmo extintor a tentar apagar desesperado os vários incêndios (extintor este que tinha ficado vazio no primeiro incêndio, evidentemente) e as estranhas pastilhas elásticas que embora de marcas e cores diferentes me ofereciam e sabiam sempre a chouriço.
Pois bem: logo de manhã, dizia eu, e mal encontrei o canídeo, o olhar comprometido com que a alimária me saudou indiciava que algo não estava bem. Mas como as minhas manhãs, como já é público (penso que terá sido o segundo post escrito nesta baiuca) também são atípicas, não dei muita importância.
E foi então assim que tudo aconteceu:
O terceiro passo na rua para o passeio matinal deu logo direito a uma escorregadela. A avaliar pelo tamanho do "bostaço", alguém deve ter passeado uma vaca em frente ao prédio pouco tempo antes. Arruinei a escultura e ficou-me presa na sola do sapato quase tanta quantidade como a produzida em dois dias pelo meu cão.
E lá foi este vosso servo deixando pegadas de merda pelo passeio fora (se não conseguisse encontrar o caminho de regresso a casa era só seguir as marcas e o cheiro) até ao jardim, tentando segurar a trela do cão com uma mão e tentando tapar o nariz com a outra para não vomitar com aquele aroma intestinal a perseguir-me e seguramente a abrir o apetite para o pequeno-almoço à rapaziada aqui do bairro...
Chegado ao jardim, e tentando limpar o melhor que sabia e podia a sola do sapato, eis que o Gui (sim, o meu cão) decide soltar o conteúdo de suas entranhas: Um líquido castanho. Está de diarreia, o cão. Lindo! E agora já começo a perceber o olhar dele em casa e começo a ter tremuras com o medo que se apodera de mim... "quando chegar a casa e fizer uma inspecçãozinha, acho que vou ter uma surpresa..."
Enquanto tentava apanhar a mistela nojenta, e com boa porção já dentro do saquinho próprio para o efeito, eis que me escorrega o auricular direito do Ipod e vai direitinho para dentro do saco...
Nesta altura passo a tentar dar a imagem. Este palerma que aqui vos escreve, de cócoras no jardim, com um sapato cheio de merda e com a perna o mais afastado possível do corpo, uma mão a segurar a trela do cão, outra a segurar o saquinho e o auricular do pequeno electrodoméstico lá dentro.
Resolvi a parte do auricular com muita imaginação e tentativas para não desatar aos berros. Pronto, vamos para casa! Já chega de infortúnios.
O pobre do bicho, mais aliviado, ia à minha frente e eis que quando visiono o seu orifício do recto - vulgo olho do cú, mas olho do cú não se escreve num blog e por isso não vou escrever olho do cú - que é das minhas primeiras vistas do dia (sortudo eu, hã? Há quem tenha vistas para o mar...) e que me indica se já está tudo feito ou se ainda tenho que dar mais uma volta, reparo que, dada a pouca consistência da produção fecal, tinha uns bons bocados agarrados...
Vou-me poupar a detalhes, mas penso que haverá poucas coisas mais degradantes do que limpar o rabinho ao cãozinho com papel higiénico segurando docemente a cauda para cima com uma das mãos (sorte não ter água de rosas em casa).
Da inspecção a casa resultou claramente ter ao cabrãozeco dado a fome durante a noite, ter feito uma incursão pela cozinha e ter decidido fazer um lanchinho (já são famosos os lanchinhos do Gui) curiosamente com alimentos que os cães não toleram.
Resultado: deixo à vossa imaginação o que encontrei, dando pistas:
- cerca de 30 litros de água gastos;
- uma embalagem de detergente para o chão com lixívia;
- uma lata de desodorizante para o ambiente;
- uma ida rápida à casa-de-banho para vomitar;
- menos um litro de leite em casa;
- menos um pacote de bolachas de aveia;
- um telefonema para um amigo médico,
- uma caixa de calmantes.
Juro que estou capaz de partir os dentes à próxima pessoa que me disser que teve um dia de merda.