sexta-feira, 19 de julho de 2013

Informação em demasia

A tendência natural que tenho para apreender informação em demasia, sobretudo a que NÃO QUERO SABER, se num primeiro momento pode ser engraçado, agora é insuportável.

Acorda este vosso servo com um barulho semelhante a uma roçadeira ou rebarbadora ou serra eléctrica ou semelhante.
Vinda do andar de cima.
Uma coisa assustadora, que me fazia crer que se assistisse ao vil desflorestar da floresta amazónica o ruído seria o mesmo. E não parou por mais de quarenta minutos.
Obrigado a levantar-me um pouco mais cedo do que queria por força de tão penosa banda sonora, decido ir tomar café à esplanada do tasco ali ao lado.
Reparo que um grupo de moças, para quem (graças ao altíssimo Deus) o pudor é um conceito desconhecido, lança impropérios contra a amiga que está a atrasar a saída em direcção à praia.
E eis que chega a minha vizinha de cima. Era dela que estavam à espera.
Começam imediatamente, furibundas, a pedir explicações para o atraso.
"Estive a fazer a depilação até agora, que isto estava um desastre", disse.

Caiu-me tão mal o café...


segunda-feira, 15 de julho de 2013

Romeiros

Daqui vejo-os passar todos os dias da semana. Já lá vão quase três anos. Os romeiros.

No início eram só dois, os coitados.
Depois começou a chegar mais família, a desgraçada.
Nasceram filhos, os pobres.
E todos os dias é a mesma romaria, tristes.
Cerca das dez e meia da manhã, madrugadores.
Passam para lá, cabisbaixos.
Cerca do meio-dia passam para cá, apressados.
Depois, lá pelas suas duas e meia, voltam para lá, a trote.
Por fim, lá por volta das suas quatro da tarde voltam, exaustos.
Todos os dias. Todos os dias.Todos os dias.
E cada vez mais, multiplicados.
Agora são pais, tios, sobrinhos, afilhados, vizinhos, padrinhos, amigos ou não, não sei.
Todos os dias para lá, todos os dias para cá, enfim.
Um dia tive curiosidade para onde iam, estúpido.
E segui-os discretamente, otário.
E afinal sentam-se todos juntos, qual acampamento nómada, organizados.
E pedem, pedincham, choram, gritam, desvalidos.
E as mulheres metem a mama de fora para publicamente amamentar as crias, infelizes.
E os homens fazem expressões de dor e de pobreza, desafortunados.
E as moedas vão caindo, tilintando.
E quem não dá nada é insultado, bem-feita.
E quem nada dá leva com uma maldição, pois claro.
Pobres romeiros. Em português só sabem pedir, naturalmente.
Tudo somado, recebem em subsídios da Segurança Social quase mil e quinhentas notas por mês, míseros.
E eu assisto à quotidiana romaria, imbecil.
E percebo que assim não vamos a lado nenhum,  néscio.