quarta-feira, 28 de agosto de 2013

As abenturas do Bítór (intróito)

"O prometido é de vidro"

Antes de começar as "abenturas" propriamente ditas, necessário se torna contextualizar, pelo menos num primeiro momento, as personagens desta saga. Confesso que o Bítór, a esse, nunca o vi. Só dele ouvi falar. Mas tanto dele sei que se um dia o encontrar na rua, saberei identificá-lo, e dar-lhe-ei um forte abraço ao mesmo tempo que castigarei a vida por nos ter apartado tanto tempo, dado já o conhecer intimamente desde o berço sem saber quem é.
À personagem principal do folheto, e heroína no caso (o conceito ambivalente, Deus que mo perdoe, suponho ser aplicável na sua plenitude) já lhe sei o nome. Para já não interessa, que é daquelas pessoas a quem o nome não bate com a cara.
Não tem cara do nome que tem. 
Assim sendo, rebaptizo-a. Será a Cidalisa. Assenta-lhe que nem uma luva de latex nas mãos enrugadas que tremem a cada tossidela.
Cidalisa terá cinquentas e qualquer coisa. Não sei. É uma figura esquelética. Peles enrugadas que lhe caem pelos ossos abaixo. A cada frase um cigarro, a cada frase uma cerveja. Terá metro e setenta, quem sabe. A pele entre o cinza e o castanho não deixa perceber se gosta de sol ou não. Os olhos encovados não deixam perceber para onde olha, se é que olha. Mas tem uns dentes lindos (tanto um como o outro).
Sabe de tudo, opina sobre tudo com a certeza de quem debita verdades universais.

Todos os outros intervenientes são os inúmeros cidadãos anónimos com nome, que no vai-vem de sentar e levantar de cadeira, gritam em segredo para quem os quer ouvir as alarvidades da sua triste existência. Ou porque são/foram amigos do Bítór, ou porque são amigos/interessados/conhecidos da Cidalisa.

Já a seguir.... "o encontro".

domingo, 25 de agosto de 2013

As abenturas do Bítór

Gosto de aldeias. Gosto de cidades.
Não gosto quando as aldeias se transformam em cidades e quando as cidades se transformam em aldeias. Sobretudo pelas alterações idiossincráticas que se tornam visíveis. E é o que que acontece no mês de Agosto. As aldeias enchem-se de quem de lá outrora partiu em busca de melhor (lá fora e cá dentro), chegam os ouros e as pratas a gangrenar os pescoços, pulsos e dedos, as voitures com seis vitesses e outras choses cujo brilho necessariamente terá de ofuscar quem as olha. Nas casas tipo maison com janelas tipo fenêtres, fechadas durante quase todo o ano, desempoeiram-se as fotografias do passado e toda a parafernália de dispositifs fica à vista dos convidados que desde cedo, pela manhã, entram no frenesim alcoólico de um mês.
Mas não é dessa realidade que quero curar. É da outra. Das cidades que se transformam em aldeias. Como esta. Como a minha.
Aqui no bairro tudo fechou. Apenas a padaria/pastelaria e um café atascado permanecem abertos. E eu, que por força do que e de quem me quer destruir, por obrigação, aqui tenho que permanecer durante o mês de Agosto. Como quem não tem mais para onde olhar nem ouvir, comecei a levar o meu livro para o menos mau. A padaria. Tem uma esplanada inclinada que o passeio não se compadece de tentativas de normalidade literária.
Ao terceiro dia desisti de levar o livro. Levei o meu bloco de notas de papel kraft (o cheiro e a textura desde sempre me deixaram loucos) e comecei a tomar notas. Na mesa ao lado, quotidianamente, independentemente da hora, a mesma figura sentada, a aviar cerveja em doses de promessa, e o discurso, esse, cada vez mais fascinante, intrigante e ridículo.
Dessas notas, sairão nos próximos dias "As aventuras do Bítór", que pelo que percebi é irmão desta criatura de sexo feminino que quando se levanta da cadeira da esplanada (oito, dez horas depois de se lá sentar?) deixa que se respirem os fungos que ela própria lá criou.

Mesdames et Messieurs,

Ladies and Gentlemen,

Meine Damen und Herren,

Señoras y Señores,

Signore e Signori ,

"As  abenturas do Bítór", já a partir do próximo post.