Não, não é um grito de guerra nem qualquer incentivo bélico.
Já cheira a mundial. Recusei-me a ver o degradante folclore da partida da nossa Selecção de Futebol na TV. Fui depois, porque quando falo - bem ou mal - gosto de o fazer com conhecimento de causa, ver videos na internet sobre o que se tinha passado.
É efectivamente deprimente e degradante. É sem sombras de dúvida um espectáculo triste e bufo. Sobretudo aquela paragem numa bomba de combustíveis para "honrar" os compromissos comerciais. É demais, é doentio, é fastidioso.
Mas caramba, percebo isto. Percebo este novo (ou renovado, consoante o calendário das competiçoes internacionais) proselitismo exacerbado. Não é difícil. Já não há referências sociais, já não há ídolos criados e venerados pela sua honestidade, idoneidade ou virtude. Já não se acredita na justiça, na medicina, no ensino e muito menos em líderes políticos. Tudo soa a falso, tudo cheira a corrupção e tudo transpira oportunismo.
Assim é natural, que numa profunda crise de valores como a que este País atravessa, e porque as religiões já não chegam para colmatar todas as falhas, que se endeusem novos paradigmas. E é aí que aparece a Selecção Portuguesa de Futebol.
É para ela que transportamos as nossas frustações e é nela que depositamos as nossas esperanças. Será por ela que durante uns dias (muitos ou poucos logo se verá) regeremos o nosso dia-a-dia. É contra ela que gritaremos e explodiremos de ira se a coisa correr mal (e estamos secretamente a expelir as nossas tristezas, frustações e preocupações pessoais que nada têm a ver com o futebol), é por ela que exultaremos se a coisa correr bem (dando-nos um novo alento para o quotidiano que, qual prozac televisivo, nos fará parecer que está tudo bem e que o céu continua azul).
Renova-se o patriotismo, sendo que é naturalmente um patriotismo pífio, grita-se a plenos pulmões PORTUGAL, para uns dias depois se exibirem bandeiras espanholas nas janelas ou dizer mal da Pátria.
Mas eu percebo. É um bocadinho de nós que ali vai. É o nosso depositário de emoções.
E também estarei eu a sofrer durante aqueles minutos, também eu gritarei, também eu rirei e chorarei, também eu me emocionarei, também eu viverei tudo isto com os nervos à flor da pele, com um patriotismo eventualmente mais sentido, é verdade (mesmo que os meus companheiros de visualização televisiva me olhem com desdém quando for o único a levantar-me no café ao som d´"A Portuguesa", puser a mão direita no peito enquanto durar, e porque não consigo que seja doutra maneira, me escorrerem lágrimas por ouvir o Hino da minha Pátria.
Será por uma bola entrar numa baliza contrária que ficarei rouco e louco, que saltarei e rejubilarei, é por uma bola eu sei, é por um mero jogo de futebol, está bem. MAS É A MINHA PÁTRIA, PORTUGAL.
Seja o Deus quiser. Boa sorte, rapaziada.