Tudo começa com um sonho. Um estúpido sonho. Sonhava que os três despertadores que são necessários para quotidianamente me arrancarem da cama estavam aos berros. No meu sonho, desligava-os mas eles continuavam a debitar decibéis de desespero. Um barulho infernal. E eu já com uma camada imensa de nervos por não conseguir calar os bastardos.
Afinal era um misto de sonho com realidade e eles estavam verdadeiramente de pulmões abertos. Eu é que estava a sonhar que os estava a tentar desligar. Abro os olhos, vejo as horas.
CARA***!
Salto da cama, piso o cão, cão queixa-se, cão morde-me a perna por vingança, escorrego à saída do quarto, felizmente o chão ampara-me a queda, não tenho água quente, vou ver o que se passa, relógio não pára, já tenho água quente, tomo duche, falta novamente a água quente, vou a pingar e tremer cheio de gel de duche no corpo pela casa fora ver outra vez o que se passa, volto a escorregar, desta vez só bato com o cotovelo numa esquina e fico com uma dor fininha que me faz ganir, cão acompanha o concerto, acabo duche, visto-me ao mesmo tempo que como alguma coisa e ponho a trela no cão. Saio. Chove quanto Deus a dá. Volto a casa, pego no guarda-chuva, volto a sair, os senhores da câmara decidiram que era hoje que iam capinar a selva que outrora foi um jardim, vou para o percurso alternativo, todos os outros cães e respectivos donos o fazem, cães a mais e espaço a menos, chove ainda mais mas desta vez com rajadas de vento, cães engalfinham-se uns nos outros, guarda-chuvadas em cães e donos, caos canino total, volto para casa encharcado, com o gurada-chuva já estragado por causa do vento e da porrada, continuo atrasado, saio, esqueço-me novamente do guarda-chuva, volto a casa, saio, esqueço-me da papelada, volto a subir, saio, esqueço-me do lixo, volto a subir, o cão já tinha dado conta que o saco do lixo estava ali a pedi-las, largo tudo, limpo tudo, pego no saco do lixo, saio, esqueço-me outra vez da papelada, volto a subir, volto a descer. A cabra da vizinha que tinha estado sempre durante este tempo todo no hall do prédio atira-me um "manhã agitada, ein?", e eu quase lhe digo em voz alta que mesmo assim há-de ser menos agitada que a vagina dela, a avaliar pelo entra e sai de gajos em casa dela durante todo o dia e noite. Olho para o relógio, calafrio na
espinha, carrego-lhe no acelerador. Por cerca de 5 metros. Trânsito muito lento. Chego quase uma hora atrasado. Peço desculpa. Desculpa porquê? Não é hoje.... É de hoje a oito.
Páro. Saio. Meto-me no carro, desligo o rádio e faço um minuto de silêncio.
Ansioso pelo resto do dia....