E foi assim. Em pouco mais de um mês mais uma notícia das que nunca se quer ouvir. Mais uma morte, mais um desaparecimento. Começo a ficar farto da finitude da vida que me dá tanto trabalho a sustentar, farto das minhas preocupações que de um momento para o outro não parecem nada quando tudo acaba mas que não me deixam ser feliz. Mais um vazio. Mais uma falta. Deus tem e chama os que mais ama, é verdade, mas porque temos nós que sofrer por uma coisa que nos deveria então dar de alguma forma conforto e paz?
Estou farto de ver partir tanta gente. E o mais estúpido de tudo é que cada dia que passa está mais perto uma partida de alguém que conheço que gosto ou que amo. E cada dia que passa está mais perto também o meu fim e o teu.
Tenho tantos problemas para resolver...
Tenho tantas coisas que quero viver...
Tenho tantas coisas que quero experimentar...
Quero dizer a tantas pessoas que já não vejo ou ouço desde sei lá quando, que são importantes para mim...
Tenho tantos beijos e abraços para dar...
E temo não conseguir chegar a todos e a tudo na minha finitude.
E escorrem-me lágrimas enquanto escrevo isto porque passaria outros tantos anos de vida dos que já tenho só para agradecer a Deus o que me deu e a todos os que tenho no coração o que me deram que são os culpados de eu ser assim. E eles são os meus deuses dos dias e das noites.
A vós, o meu obrigado por existirem, o meu amor por me amarem, o meu tudo pela vossa simples existência, que faz mais belos os meus dias.
A Ti, meu Deus em que creio, peço-te que me dês só mais tempo. O necessário para agradecer a todos os que de algum modo me fazem sentir aquilo que tu queres que eu sinta como Teu filho.
A todos os outros que nunca lerão estas palavras ou nunca ouvirão da minha boca aquilo que lhes quero dizer, deixo as palavras da minha querida e amada Senhora Guiomar, que com 98 anos, sem saber que era a última vez que me via, disse-me: "Não sei quando nos voltaremos a ver nesta terra, mas tenho a certeza que nos encotraremos no céu. Até ao Céu!"