quarta-feira, 9 de setembro de 2009

Tudo é relativo


Como é óbvio e evidente ninguém, ou quase ninguém, fica feliz com a desgraça alheia. Eu, pelo menos, não fico.
Mas tenho que confessar que muitas vezes a desdita alheia faz-me relativizar a minha própria desgraça e faz-me ver, afinal de contas, que aquele meu problema não é uma hecatombe, que aquele meu azar não é, como eu pensava, comparável ao infortúnio de Jó, e aquela maleita não é nada em fase terminal.
Surge isto a propósito desta última madrugada, em que me vi metido numa alhada que incluiu urgências veterinárias, sangue, desesperos e tudo. O ambiente estava tenso e eu lanço uma daquelas frases infelizes, de circunstância, que não servem para rigorosamente nada mas alguém tem que as dizer:

- “Há horas do diabo!”

Ó santa coisinha que me foi sair da boca.

Um dos presentes (que não conhecia) conta o que lhe aconteceu vai para um ano. Os factos seguintes foram-me relatados na primeira pessoa. Os factos são dele. O léxico é meu. Não vou acrescentar nem mais um ponto ao conto.
Esse cristão tinha ido a uma festa com alguns amigos. No regresso a casa , um qualquer “fangio” vinha em contramão e direitinho a ele. Guinou para evitar o embate frontal. Galgou o passeio e ficou amparado por um poste.
Ainda estúpido de confuso, começa a ver os estragos do carro. Roda direita da frente empenada, umas amolgadelas e uns riscos.
Quando voltava para entrar, e por força da posição em que o carro tinha ficado, outro veículo que circulava em sentido contrário, encadeado, vem também direito a ele. Teve apenas tempo de se mandar para o passeio. Mas foi aterrar numa valeta. Que servia de drenagem a uma fossa.
Vê-se o nosso herói a sangrar do nariz e cabeça, por um lado, e a escorrer esterco, por outro.(Imagem linda e poderosa....)
Desnorteado, decide que o melhor é, o mais rapidamente possível, pôr o carro em casa e ir ao hospital.
Ligou os quatro piscas, e com o carro a desconjuntar-se e a fazer barulhos tipo maracas e “nheca nheca” lá foi quase a 20 à hora para casa.
Mas quando finalmente estaciona, repara que atrás dele pára também o carro da polícia que o tinha vindo a seguir dado o comportamento estranho de condutor e conduzido.
Sai, mostra a documentação e é convidado a ir até à esquadra onde depois de dois dedos de conversa e tão só uma “bufadela” paga prontamente a multa pelo excesso de álcool.
Muito tempo depois consegue chegar às urgências. No carro da policia, que lhe deu boleia....
Ora digam lá . Afinal até nos nossos dias mais cinzentos, comparativamente, ainda há raios de sol.

5 comentários:

  1. Por acaso, esse indivíduo não veio a ser um dos 6 (salvo erro) pobres coitados que vieram a ficar cegos num hospital aí dos arredores, não?... Seria, por assim dizer, a cereja no topinho do bolinho...

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  2. Ainda hoje falei desse "sentimento" ao almoço.
    A minha filha nasceu com os dedos mindinhos do pé sobrepostos e quando conheceu uma senhora com o mesmo problema passou a achar mais normal ter os dedos assim. É próprio do ser humano...acho eu.

    Um abraço

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  3. Bem vindo antónio José! Não, por mero acaso não foi um dos premiados....

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  4. Cara JS:

    Lá está. Tudo é relativo. Só depende de nós escolher se o copo está meio cheio, ou meio vazio...

    Obrigado!

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  5. Esse acontecimento geraria um cartoon tão fixe!!!

    Eduardito

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