domingo, 6 de junho de 2010

Às Armas!

Não, não é um grito de guerra nem qualquer incentivo bélico.
Já cheira a mundial. Recusei-me a ver o degradante folclore da partida da nossa Selecção de Futebol na TV. Fui depois, porque quando falo - bem ou mal - gosto de o fazer com conhecimento de causa, ver videos na internet sobre o que se tinha passado.
É efectivamente deprimente e degradante. É sem sombras de dúvida um espectáculo triste e bufo. Sobretudo aquela paragem numa bomba de combustíveis para "honrar" os compromissos comerciais. É demais, é doentio, é fastidioso.
Mas caramba, percebo isto. Percebo este novo (ou renovado, consoante o calendário das competiçoes internacionais) proselitismo exacerbado. Não é difícil. Já não há referências sociais, já não há ídolos criados e venerados pela sua honestidade, idoneidade ou virtude. Já não se acredita na justiça, na medicina, no ensino e muito menos em líderes políticos. Tudo soa a falso, tudo cheira a corrupção e tudo transpira oportunismo.
Assim é natural, que numa profunda crise de valores como a que este País atravessa, e porque as religiões já não chegam para colmatar todas as falhas, que se endeusem novos paradigmas. E é aí que aparece a Selecção Portuguesa de Futebol.
É para ela que transportamos as nossas frustações e é nela que depositamos as nossas esperanças. Será por ela que durante uns dias (muitos ou poucos logo se verá) regeremos o nosso dia-a-dia. É contra ela que gritaremos e explodiremos de ira se a coisa correr mal (e estamos secretamente a expelir as nossas tristezas, frustações e preocupações pessoais que nada têm a ver com o futebol), é por ela que exultaremos se a coisa correr bem (dando-nos um novo alento para o quotidiano que, qual prozac televisivo, nos fará parecer que está tudo bem e que o céu continua azul).
Renova-se o patriotismo, sendo que é naturalmente um patriotismo pífio, grita-se a plenos pulmões PORTUGAL, para uns dias depois se exibirem bandeiras espanholas nas janelas ou dizer mal da Pátria.
Mas eu percebo. É um bocadinho de nós que ali vai. É o nosso depositário de emoções.
E também estarei eu a sofrer durante aqueles minutos, também eu gritarei, também eu rirei e chorarei, também eu me emocionarei, também eu viverei tudo isto com os nervos à flor da pele, com um patriotismo eventualmente mais sentido, é verdade (mesmo que os meus companheiros de visualização televisiva me olhem com desdém quando for o único a levantar-me no café ao som d´"A Portuguesa", puser a mão direita no peito enquanto durar, e porque não consigo que seja doutra maneira, me escorrerem lágrimas por ouvir o Hino da minha Pátria.
Será por uma bola entrar numa baliza contrária que ficarei rouco e louco, que saltarei e rejubilarei, é por uma bola eu sei, é por um mero jogo de futebol, está bem. MAS É A MINHA PÁTRIA, PORTUGAL.
Seja o Deus quiser. Boa sorte, rapaziada.

15 comentários:

  1. Intoxicação pura...forma de nos alienar e afastar das questãos que realmente importam...
    Mas enfim... que marquem uns golos para animar o povo!

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  2. Também não vi a partida da equipa. Também não tenho (nem vou ter, cruzes credo) nenhuma vuvuzela. E não tenho nenhum cachecol ou bandeira comprada na loja dos chineses mais próxima.
    Mas também eu vou ver os jogos todos. Também hei-de gritar até ficar rouca. Com orgulho. Porque é o nome do meu país que ali está (por pior que seja, é o meu).

    (Como sempre, parabéns pela escrita :))

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  3. Sou estupidamente patriota, sofro pelo meu país, com o meu país, sofro com a alarvidade em que se transformou a sua gente. Por isso mesmo trepo pelas paredes com este patriotismo de plástico, que só surge em campeonatos da bola.
    Onde é que está o patriotismo desta malta quando não há esférico???

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  4. Identifico-me consigo até certo ponto.
    Para mim já se evaporaram muitas "coisas", gosto do meu país, sou com uma mãe que pode ralhar com um filho mas que o defende se outros o atacam, mas o ganharem ou perderem, o jogarem ou não, não me interessa absolutamente nada...
    Abracinho

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  5. Pois eu devo dizer-te que, no que me diz respeito, ficarei muito mais feliz se, no final de cada jogo, eles comerem relva... da boa, fresquinha, verdinha... e de preferencia ao som dos cornos cor-de-laranja...
    Tu sabes que eu nem posso ver os jogos, de proibida que estou por ti, de maneiras que resta-me a indignação...

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  6. Pode ser só futebol mas eu vibro, eu regozijo, eu fico maluca. :D

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  7. Eu até percebo a "intenção",mas o meu patriotismo não comporta a ideia de gritar histérica por onze mancos atrás de uma bola...ainda por cima redonda :P

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  8. Rosa Negra:

    É exactamente isso.

    (obrigado)

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  9. Ana C:

    Embrulhado num farrapo dos chineses? Dá-lhe mulher!

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  10. Maria Teresa:

    Confesse que até vai ver um jogo ou outro...

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  11. Joanissima:

    TU NEM TE ATREVAS A LIGAR A TELEVISÃO. ESTÁS PROIBIDA!!!!!!!

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  12. Anna^:

    A questão é que sem bola, muitos nem sabem de que pátria são...

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  13. Também não vi aquele espetáculo que, na minha opinião, me soou a palhaçada.
    Também acho que há muitas coisas em Portugal que estão mal.
    Também acho que muitos dos valores se estão a esfumar, assim como muitas coisas importantes são deixadas para trás e tratadas sem lhes ser dado o devido valor, quase em cima do joelho, como a saúde e a educação.
    Mas também visto a camisola do meu País, dê para o que der. E o futebol não é excepção. Além de gostar de futebol, gosto do meu País e gosto de o ver ganhar. Já não aguento ouvir falar em vuvuzelas, mas vou ver cada jogo, torcer por eles, por nós, vou sofrer e vou saltar com os golos que, espero, marquemos em maior quantidade que os adversários.
    Força, Portugal! :)

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