terça-feira, 22 de dezembro de 2009

Os afins do casamento Gay (ou a segunda parte)


Adopção?
Quanto a esta questão, confesso que ainda não tenho opinião final formada. Deixo-vos aqui um pouco do que me passa pela cabeça quanto a isto, pedindo que me ajudem com os vossos comentários.
É muita coisa em jogo. Já não é só a questão do casal, da vida a dois regulamentada. Há uma terceira pessoa – uma criança – metida ao barulho.

São muito elementos a considerar.

Tendencialmente pendo para o "não".

Penso que para o normal e salutar crescimento de uma criança é necessário o referente maternal e o paternal. É preciso um Pai e uma Mãe.
Mas logo me lembro dos filhos de mães solteiras, de pais divorciados, ou órfãos de um dos progenitores, e esse meu argumento parece esfumar-se, não obstante uma coisa ser a falta de um (ou ter um longe ou um substituto), e outra é ter dois mas do mesmo sexo a tentar colmatar algo que pura e simplesmente fisiologicamente não podem saber o que é.

Para mim o argumento de que uma criança não se desenvolveria em harmonia e com “normalidade” por ter “dois pais” ou “duas mães”, na medida em que haveria grande possibilidade de “sair” também homossexual, não vinga. A verdade é que os homossexuais são, na sua grande maioria, frutos de relações heterossexuais, sem episódios “desviantes” durante o período de formação da sua personalidade. Ou em última análise, defendendo aquela teoria, ou não haveria homossexuais ou pelo menos um dos progenitores era um homossexual (masculino ou feminino) escondido.

Pergunto-me também (e por força de uma conversa que um dia tive com um grande amigo meu que só quase depois de uma década de convivência, me confessou a sua orientação sexual, num momento que nunca esquecerei e onde as lágrimas formaram nesse momento o rio de palavras que passou debaixo da ponte das nossas vidas) se é melhor não permitir a adopção por gays ou deixar crianças confinadas em orfanatos e outras instituições até aos 16 anos.
Será melhor deixá-los assim ou permitir-lhes saber o que é um lar, um quarto de dormir só para eles, um amor incondicional, pessoal e humano, e não institucional, só para eles?
Dizia-me este meu amigo, além do que é óbvio – só se permite adoptar a quem tem condições para isso – que os casais homossexuais (e desta feita só os masculinos) como estão pela natureza impedidos e impossibilitados de procriar, tornariam a criança adoptada no objecto mais profundo do seu amor. Nunca tinha pensado nisso, e tem alguma razão de ser, mas mesmo assim há algo que me faz confusão.

E a propósito de confusão, cada vez mais tomo consciência que esta questão da adopção por homossexuais é tão só e apenas uma questão de tempo. Mais tarde ou mais cedo ela acabará por ser uma realidade. Resta saber se é para já ou se deixamos o tempo amolecer aquilo que pensamos serem as nossas inabaláveis convicções.

É natural que a uma grande maioria, na qual me incluo, faça muita impressão, mas ao mesmo tempo basta lembrar a realidade de há 20 ou 30 anos nas escolas primárias e preparatórias de então. E a isto eu assisti.
Ah! Uh! Escândalo! Os pais são divorciados! Ha! Uh! A mãe é solteira!!!
E a verdade é que hoje isso é normal e ninguém no seu perfeito juizo ousa criticar pais ou criança, ou sequer tecer comentários, dada a naturalidade da coisa.

E a realidade, por muito que custe aceitar (ou não), é que os homossexuais já adoptam ou até já vivem com os seus filhos biológicos. Quantos casos não há de casais que ou por fachada, ou porque descobriram a sua verdadeira sexualidade mais tarde, não casaram, tiveram filhos e depois se divociaram para ir viver com uma pessoa do mesmo sexo e os filhos vivem com um ou com outro, perfeitamente cientes do que se passa?

Está certo que não consigo meter na cabeça uma futura conversa de putos na escola em que um diz “a pilinha da minha mãe é maior do que a do teu pai”, mas....

Acho é que ainda não estou preparado para isso.

Não sei. Há muita coisa em jogo.

A vós a palavra.

6 comentários:

  1. Olá!
    Também fiz um post sobre o assunto do casamento gay e penso que foi uma grande vitória sobretudo da igualdade, o casamento é um contrato civil, nem me imagino um dia a casar porque não é um papel que me define como pessoa casada! Mas , se o quiser fazer, tenho essa escolha, achava muito injusto que os gays não tivessem essa escolha também!
    A adopção é outro assunto, mais sério, mas na globalidade! Têm que se ter muitas coisas em conta, não é um assunto que se decida de ânimo leve. Pessoalmente não vejo problema em um casal gay adopte uma criança, na minha opinião é uma questão de mentalidades! Cresci numa instituição, dita orfanato, felizmente tenho e sempre tive a minha familia biológica, mas cresci com muitas pessoas que não se importavam de ter uma familia, fosse ela como fosse, desde que pudessem dizer que tinham alguém!
    Mas é só a minha opinião, ainda bem que postaste sobre isso, ainda há muito preconceito em relação a este assunto, mas tem que ser falado!
    Beijinhos

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  2. Também eu nado em águas de dúvida acerca deste assunto. Tendo para comigo que não sabendo nadar é preferível manter-me onde haja "pé" prefiro não alterar aquilo que sempre funcionou bem. Mas que me ficam questões a necessitar de respostas.. ficam.
    Um abraço e os desejos próprios da época!
    R.V.

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  3. Gostava de acrescentar alguma coisa tremendamente profunda ao teu texto, mas navego nas mesmas águas que tu. Quando vejo reportagens sobre casais homossexuais nos EUA que adoptaram 9 crianças de países miseráveis e quando vejo a dedicação incondicional e o amor que lhes devotam o meu coração diz-me que aquelas crianças não podiam estar mais bem entregues.
    Outras vezes vejo casais heterossexuais (pais biológicos ditos normais) que destroem o futuro dos filhos, que abusam fisica e psicologicamente daqueles que deveriam proteger e penso que não há soluções universais e que cada caso, seja hetero, ou homo, é um caso.

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  4. Mil vezes um lar com amor do que nenhum! Apesar de haver instituições muito boas nunca se comparam a um lar verdadeiro, seja ele com pai e mãe, pai e pai ou mãe e mãe.
    Eu penso assim.

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  5. A todos:

    Obrigado pelos vossos comentários. Como dise no início ainda não tenho opinião formada e cada comentário vosso é um valioso contributo para a formação da minha opinião.

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  6. Não vou adiantar nada. Já tenho pensado muitas vezes sobre o assunto, um lado meu está a favor, o outro está contra, como no meio é que está a virtude penso há casos e casos, situações e situações. Têm que existir estruturas que estudem os enquadramentos possíveis para as crianças a adoptar, tal como se faz na adopção "normal".
    Esses processos têm é que ser rápidos e não se arrastarem... como infelizmente acontece.

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