segunda-feira, 23 de setembro de 2013

Ainda não é a continuação do Bítor

Ainda não é a continuação do Bítor.

Só para dizer que nestas semanas tenho estado à prova. Dizer estas semanas é um eufemismo. Já são meses. Muitos. Demasiados. Jugo incomensurável. E à memória chegou a frase, que já não me lembro de quem é :"I still believe in God, but God no longer believes me".
Engano.
O Gajo não obstante andar a tratar-me à chapada, volta meia volta dá um ar de Sua graça.
E isto não está fácil.
E isto é complicado.
E isto só lá vai a ferros.

E olha, Pá, desculpa qualquer coisinha. Ainda ando por aqui a querer adorar-te. Obrigado. Mas às vezes é complicado.

Entre estrelas e lágrimas, alguém que amo do mais profundo do meu ser disse, reunindo a família, e no meio de um pranto que me encolheu a alma:

"Deus está connosco"

E não é que é verdade?

quarta-feira, 28 de agosto de 2013

As abenturas do Bítór (intróito)

"O prometido é de vidro"

Antes de começar as "abenturas" propriamente ditas, necessário se torna contextualizar, pelo menos num primeiro momento, as personagens desta saga. Confesso que o Bítór, a esse, nunca o vi. Só dele ouvi falar. Mas tanto dele sei que se um dia o encontrar na rua, saberei identificá-lo, e dar-lhe-ei um forte abraço ao mesmo tempo que castigarei a vida por nos ter apartado tanto tempo, dado já o conhecer intimamente desde o berço sem saber quem é.
À personagem principal do folheto, e heroína no caso (o conceito ambivalente, Deus que mo perdoe, suponho ser aplicável na sua plenitude) já lhe sei o nome. Para já não interessa, que é daquelas pessoas a quem o nome não bate com a cara.
Não tem cara do nome que tem. 
Assim sendo, rebaptizo-a. Será a Cidalisa. Assenta-lhe que nem uma luva de latex nas mãos enrugadas que tremem a cada tossidela.
Cidalisa terá cinquentas e qualquer coisa. Não sei. É uma figura esquelética. Peles enrugadas que lhe caem pelos ossos abaixo. A cada frase um cigarro, a cada frase uma cerveja. Terá metro e setenta, quem sabe. A pele entre o cinza e o castanho não deixa perceber se gosta de sol ou não. Os olhos encovados não deixam perceber para onde olha, se é que olha. Mas tem uns dentes lindos (tanto um como o outro).
Sabe de tudo, opina sobre tudo com a certeza de quem debita verdades universais.

Todos os outros intervenientes são os inúmeros cidadãos anónimos com nome, que no vai-vem de sentar e levantar de cadeira, gritam em segredo para quem os quer ouvir as alarvidades da sua triste existência. Ou porque são/foram amigos do Bítór, ou porque são amigos/interessados/conhecidos da Cidalisa.

Já a seguir.... "o encontro".

domingo, 25 de agosto de 2013

As abenturas do Bítór

Gosto de aldeias. Gosto de cidades.
Não gosto quando as aldeias se transformam em cidades e quando as cidades se transformam em aldeias. Sobretudo pelas alterações idiossincráticas que se tornam visíveis. E é o que que acontece no mês de Agosto. As aldeias enchem-se de quem de lá outrora partiu em busca de melhor (lá fora e cá dentro), chegam os ouros e as pratas a gangrenar os pescoços, pulsos e dedos, as voitures com seis vitesses e outras choses cujo brilho necessariamente terá de ofuscar quem as olha. Nas casas tipo maison com janelas tipo fenêtres, fechadas durante quase todo o ano, desempoeiram-se as fotografias do passado e toda a parafernália de dispositifs fica à vista dos convidados que desde cedo, pela manhã, entram no frenesim alcoólico de um mês.
Mas não é dessa realidade que quero curar. É da outra. Das cidades que se transformam em aldeias. Como esta. Como a minha.
Aqui no bairro tudo fechou. Apenas a padaria/pastelaria e um café atascado permanecem abertos. E eu, que por força do que e de quem me quer destruir, por obrigação, aqui tenho que permanecer durante o mês de Agosto. Como quem não tem mais para onde olhar nem ouvir, comecei a levar o meu livro para o menos mau. A padaria. Tem uma esplanada inclinada que o passeio não se compadece de tentativas de normalidade literária.
Ao terceiro dia desisti de levar o livro. Levei o meu bloco de notas de papel kraft (o cheiro e a textura desde sempre me deixaram loucos) e comecei a tomar notas. Na mesa ao lado, quotidianamente, independentemente da hora, a mesma figura sentada, a aviar cerveja em doses de promessa, e o discurso, esse, cada vez mais fascinante, intrigante e ridículo.
Dessas notas, sairão nos próximos dias "As aventuras do Bítór", que pelo que percebi é irmão desta criatura de sexo feminino que quando se levanta da cadeira da esplanada (oito, dez horas depois de se lá sentar?) deixa que se respirem os fungos que ela própria lá criou.

Mesdames et Messieurs,

Ladies and Gentlemen,

Meine Damen und Herren,

Señoras y Señores,

Signore e Signori ,

"As  abenturas do Bítór", já a partir do próximo post.

sexta-feira, 19 de julho de 2013

Informação em demasia

A tendência natural que tenho para apreender informação em demasia, sobretudo a que NÃO QUERO SABER, se num primeiro momento pode ser engraçado, agora é insuportável.

Acorda este vosso servo com um barulho semelhante a uma roçadeira ou rebarbadora ou serra eléctrica ou semelhante.
Vinda do andar de cima.
Uma coisa assustadora, que me fazia crer que se assistisse ao vil desflorestar da floresta amazónica o ruído seria o mesmo. E não parou por mais de quarenta minutos.
Obrigado a levantar-me um pouco mais cedo do que queria por força de tão penosa banda sonora, decido ir tomar café à esplanada do tasco ali ao lado.
Reparo que um grupo de moças, para quem (graças ao altíssimo Deus) o pudor é um conceito desconhecido, lança impropérios contra a amiga que está a atrasar a saída em direcção à praia.
E eis que chega a minha vizinha de cima. Era dela que estavam à espera.
Começam imediatamente, furibundas, a pedir explicações para o atraso.
"Estive a fazer a depilação até agora, que isto estava um desastre", disse.

Caiu-me tão mal o café...


segunda-feira, 15 de julho de 2013

Romeiros

Daqui vejo-os passar todos os dias da semana. Já lá vão quase três anos. Os romeiros.

No início eram só dois, os coitados.
Depois começou a chegar mais família, a desgraçada.
Nasceram filhos, os pobres.
E todos os dias é a mesma romaria, tristes.
Cerca das dez e meia da manhã, madrugadores.
Passam para lá, cabisbaixos.
Cerca do meio-dia passam para cá, apressados.
Depois, lá pelas suas duas e meia, voltam para lá, a trote.
Por fim, lá por volta das suas quatro da tarde voltam, exaustos.
Todos os dias. Todos os dias.Todos os dias.
E cada vez mais, multiplicados.
Agora são pais, tios, sobrinhos, afilhados, vizinhos, padrinhos, amigos ou não, não sei.
Todos os dias para lá, todos os dias para cá, enfim.
Um dia tive curiosidade para onde iam, estúpido.
E segui-os discretamente, otário.
E afinal sentam-se todos juntos, qual acampamento nómada, organizados.
E pedem, pedincham, choram, gritam, desvalidos.
E as mulheres metem a mama de fora para publicamente amamentar as crias, infelizes.
E os homens fazem expressões de dor e de pobreza, desafortunados.
E as moedas vão caindo, tilintando.
E quem não dá nada é insultado, bem-feita.
E quem nada dá leva com uma maldição, pois claro.
Pobres romeiros. Em português só sabem pedir, naturalmente.
Tudo somado, recebem em subsídios da Segurança Social quase mil e quinhentas notas por mês, míseros.
E eu assisto à quotidiana romaria, imbecil.
E percebo que assim não vamos a lado nenhum,  néscio.



quinta-feira, 27 de junho de 2013

Greve Geral


                Pelo que vejo das imagens televisivas, a maior parte dos plenários de hoje foram realizados em areais, de onde ninguém desmobilizou, simbolizando a luta do proletariado que é tratado como grãos de areia pisados quotidianamente. Fácil foi constatar também a quantidade inédita de piquetes a evitar a ondulação mais forte proveniente dos grandes interesses do capital. Tudo isto em sintonia com as manifestações contra o imperialismo capitalista e o estado da agricultura e pesca portuguesas, resultando naturalmente no alavancar do consumo de produtos nacionais, com especial ênfase nos derivados líquidos de cereais (mormente cevada, malte e lúpulo) provenientes do Alentejo, a acompanhar o grito da revolta piscatória com abundante uso de determinado peixe clupeídeo marítimo.
     
               


segunda-feira, 24 de junho de 2013

A sério?

A sério que há mais de um ano que o há-des está órfão?

Vergonha....