terça-feira, 29 de setembro de 2009

O futuro do país e o meu futuro


Desde Domingo que faço contas à vida.
Como será o novo governo? E o meu futuro?
Para que não seja apanhado desprevenido, criei já o meu plano de contingência (é in ter um agora, seja para o que for). Eis as possibilidades até agora e minhas respectivas soluções:
Hipótese 1
PS sozinho em minoria:
Compro um balde gigante de pipocas e bilhete inteiro de temporada para o parlamento ( mas com a ressalva de devolução do dinheiro caso o governo não chegue ao fim da legislatura), que a coisa promete.
Por via das dúvidas, andarei sempre com uma caneta no bolso, não vá haver umas eleições à espreita na esquina.
Compro um bloco A5 onde desenho uma grelha com uma coluna para data, outra para manifestação, outra para números de adesão adiantados pelos sindicatos, outra para números de adesão dados pelo governo e uma última para contabilizar os minutos de vitimização que serão carpidos pelo PM na comunicação social.
Hipótese 2
PS e CDS/PP:
Tomo pequeno-almoço com padres, almoço com bancários e janto com sindicalistas da UGT, à cautela.
Tento desesperadamente entrar na Opus Dei e na Maçonaria ao mesmo tempo.
Vou à primeira parafarmácia que encontrar, compro 70Kg de aspirinas, que só assim é que a coisa me parece se vai aguentar.
Hipótese 3
PS, CDU e BE:
Deixo de usar fato e gravata (que ser alvo fácil de snipers revolucionários é coisa que me assusta), ponho uma cara de zangado com a vida e deixo crescer a barba.
Deixo de trabalhar, escondo o facto de ser licenciado, pós-graduado, e de ter queimado muitas pestanas e suado as estopinhas para chegar onde cheguei por mérito e esforço próprio, deixo de tomar duche todos os dias, visto andrajos e ponho-me a exigir uma casa, uma nova oportunidade , o rendimento mínimo e mais uns quantos subsídios novos que hão-de aparecer. Ao mesmo tempo vou tentando discretamente perceber para que país fujo.
Hipótese 4
PS e BE:
Vendo tudo o que tenho de valor (carro incluído que quem tem um e não anda de transportes públicos é de burguês fascista) e escondo o dinheiro.
Faço uma fogueira onde queimo a minha roupa considerada mais burguesa e invisto em roupa de feira para passar despercebido na rua.
Faço uma limpeza a fundo cá em casa para ir preparando o dia em que me vai entrar por aqui adentro uma qualquer força milicio-popular-revolucionária a dizer que a casa é do povo e me levarem os pertences que ainda me restarem.
Com o dinheiro escondido nos sapatos e meia dúzia de trapos faço-me à estrada durante a noite e fujo do país.

Por via das dúvidas tenho dedicado duas horas por dia a:
- treinar o cão para ser capaz de levar os seus haveres embrulhados num pacotinho preso aos dentes;
- aprender a tocar viola;
- decorar algumas músicas de intervenção.

Diálogos impossíveis... mas reais II

8 da manhã.
Ainda com o cérebro a dormir profundamente, sintomatologia somali no estômago e bexiga prestes a transformar-se em hérnia, vislumbro com muita dificuldade (dada a hora pornográfica) o panorama da sala de espera do laboratório de análises clínicas.
Respiro fundo de tranquilidade: tudo normal e tudo no sítio, que é como quem diz paredes a precisar urgentemente de pintura, revistas do tempo em que a imprensa ainda não tinha sido inventada, necessariamente em cima duma mesa com tampo de vidro baço (não! não é baço! Aquilo são dedadas!), e a televisão, sem som, ligada num canal impossível de identificar, tal a qualidade da imagem.
Os meus companheiros de sevícias são todos muito discretos, mas fixo-me numa senhora de mais idade. Vem dos arredores.
É uma imagem que sempre me enternece, ver essas senhoras que vêm de fora da cidade, de sítios mais rurais, e que vestem roupas que certamente são retiradas do armário para ocasiões especiais e para vir à cidade.
Mas o telurismo que lhe corre nas veias fareja-se à distância. Não só pela indumentária, mas também e sobretudo pela postura corporal humilde e quase submissa com que se senta na cadeira, “saca plástica” carregadinha de medicamentos (não consigo imaginar porque os leva, mas há coisas que é melhor não saber), e as socas calçadas, que mesmo com o calor não há coisa mais confortável.
O tempo vai passando e a senhora demonstra nitidamente sinais de agitação e nervosismo.
Depois de ter conversado com outra que estava a seu lado (e todos ficámos a saber tudo acerca dela, das doenças de que padece, da família, do marido e respectivos problemas com o álcool, das raparigas que agora são piores que os rapazes, do fogão novo que comprou na “Vórti”, do filho emigrado na Suiça que está desempregado, veja lá...) já quase que saltita na cadeira.

De repente, levanta-se e dirige-se à recepcionista perguntando:

- Onde é a casa-de-banho?
- É ao fundo à direita. Mas não vai urinar, pois não?
- O quê?
- Não vai urinar pois não? É que não pode...
- Não! Vou lá agora! Vou é mandar uma mijadela que já não aguento mais!

E foi.

segunda-feira, 28 de setembro de 2009

Eleições e pensamentos

Vão-me desculpar, mas olhando para o panorama eleitoral (de uma ponta à outra) depois dos resultados de ontem, fiquei com uma certeza:
No dia em que o Victor Cardinali se candidatar a umas eleições legislativas vai ganhar com maioria absoluta, pois neste país tem mais votos quem mais se dedica às artes circenses.
E começo a estar um pouco farto pelo facto das campanhas só servirem para me mandar amendoins à testa. A mim e a todos os Portugueses.
Efim. Desculpem. Estava a precisar de desabafar.

terça-feira, 22 de setembro de 2009

Resposta a repto

Se não fosse a Joanissima a enviar, provavelmente pensaria duas vezes antes de aceitar o desafio e responder. Mas vindo de quem vem, não há modo de dizer não.
Ora aqui vai:

1 - Quem mais gostas de abraçar no presente?

Todos aqueles que acho que devem (e merecem) verdadeiramente ser abraçados. Sem estigmas, sem preconceitos, sem conceitos, sem reservas.


2 - Quem nunca abraçarias?

Toda a gente que não nasceu para ser pessoa, que com a sua mesquinhez, pobreza de espírito, mediocridade e inveja enfermam os meus dias.

3 - A quem davas tudo para poder abraçar?

A todas aquelas pessoas que já abracei e que, porque o seu tempo neste mundo já terminou, nunca mais poderei voltar a abraçar.

4 - A quem davas o teu melhor abraço?

Só tenho um abraço. Meu, único e verdadeiro. Não sei se é o melhor, o pior, o mais forte ou o mais fraco. É o meu. É sempre o mesmo. E só o tem quem é digno dele. Sinto-me previlegiado e o mais feliz dos homens por já ter dado muitos abraços e ter pessoas a quem não me importaria de estar abraçado um dia inteiro.

terça-feira, 15 de setembro de 2009

Parabéns!!!!!


É o segundo aniversário do Gui!
Este é o Gui! O meu cão!
Faz hoje 2 anos (o que contra tudo o que sempre pensei em termos de conhecimento canino - achava que seriam 14 anos humanos - e no que ao seu caso concreto diz respeito, equivale a 25 anos de gente).
1 ano e 10 meses comigo.
Sempre adorei animais. Nunca esquecerei dos Natais frios na aldeia da minha "Tia Tina", em que acordava com 4 ou 5 gatos debaixo dos 7 lençois e 30 cobertores (faz muito frio para aquelas bandas. Neva no Natal!!!) que ela punha como modo só dela para me acordar. E era tão bom.
Eu não queria um cão. Ou melhor, sempre desejei e nunca - por forças das circunstâncias que eu mesmo ia criando - fui capaz de ter um.
Há coisa de um ano e dez meses vi, quase por acidente, uma cadela que tinha sido abandonada pelos donos pelo simples facto de ter emprenhado. Teve 7 crias. Machos - 5, Fêmeas - 2.
Fui ver os "bebés".
Acariciei um, peguei num outro, todos contentes pelo afecto que lhes estava a dar. Fiz a minha boa acção do dia, pensei...
Mas, quando pego numa específica e determinada bolinha de pêlo preta para também o afagar, agarra-se à minha camisola com as unhitas, começa a tremer como nunca vi um animal tremer e começa a lamber-me o pescoço e cara como se me conhecesse desde sempre, e como se desde sempre estivesse à minha espera.
- "Não o posso deixar aqui".
E não deixei.
Desde então a minha vida mudou.
Tive que mudar de casa (duas vezes) para NOS adaptarmos ao espaço. Descobri (da pior maneira) que não podia deixar as coisas de que mais gostava não à "mão-de-semear", mas à "pata-de-roer".
Fiquei sem candeeiros, carregadores de telemóveis, livros (leu um interinho de trás para a frente) e Cd´s;
Fiquei sem carteira, cartões multibanco e de crédito de tão roídos os deixou (estando até hoje sem saber por que raio só escapou o cartão de contribuinte....);
Fiquei sem as minhas plantas favoritas, um pedaço de canto de parede, móveis, calçado e outras coisas que tal.
Fez com que, e durante muito tempo, cada vez que subisse no elevador para entrar em casa, me viessem suores frios e um franco estado de nervos com medo do que poderia encontrar em casa, e no estado em que poderia encontrá-la;
Fez com que viesse a saber que os cães também podem ser hiperactivos e fazerem recorrentes crises de ansiedade ("Clomicalm 20 mg, um comprimido logo pela manhã durante 3 meses");
Fez com que entrasse no maravilhoso e milionário (para eles) mundo dos veterinários;
Tive que o castigar muitas vezes. Leu o "Público", versão enrolada quando se portou mal, e o "Expresso", em versão também enrolada quando se portou muito mal.
Mas é o meu Gui. É o meu cão. Que responde quando o chamo: "Gui", "Cão", "Zé" ou "Vem cá".
É quem conhece o barulho do motor do meu carro, e mal entro no bairro fica à espreita na varanda, recolhendo as orelhitas de satisfação e soltando ganidos (baixinhos, que sabe que não pode fazer barulho) por seu dono chegar.
Chego a casa muitas vezes exausto, triste, desolado, frustado da merda de dia que tive. Mas quando abro a porta de casa, o meu Gui faz-me a festa de quem tem o auge do seu dia naquele momento. Cumprimenta-me, lambe-me, salta à minha volta de contentamento.
O Gui é o "speed" do meu Ego.
Para o Gui as coisas só têm sentido quando eu estou por perto.
E quando me corto, me magoo numa esquina traquina, quando uma porta se mete diante dum pé meu, quando (por causa dele, faltava essa...) até um braço parti, lá vem o Gui, já tendo percebido que não estou bem, lamber-me, confortar-me, e aninhar-se junto a mim para me dar o seu quentinho.
Dorme aberto como um frango assado, mas basta eu espirrar para vir indagar se estou bem.
Este é o Gui. O meu cão.
Parabéns bicho!
Sabes, embora às vezes não pareça, o teu dono gosta muito de ti.

domingo, 13 de setembro de 2009

Fim-de-semana

No fim-de-semana e hoje li coisas brilhantes escritas por pessoas brilhantes que me dizem muito.
Coincidência ou não, também falei com gente que vale muito a pena e não ouvia há muito.
Econtrei-me com pessoas que embora vivam fisicamente perto - as cidades podem ser mundos -passam-se meses sem que as veja ou fale com elas (e talvez por isso seja mais difícil marcar um simples café, pois vive-se na ilusão que pode ser "sempre" ou "já amanhã", sendo que esse "sempre" é verdadeiro, e o "amanhã" é mentiroso e falso, com tanto de matreiro como de eterno, encarnando em si a sua própria e total dimensão fatalista, nunca se transformando em "hoje" ou em "já"). Um amanhã é sempre um amanhã.
No fim-de-semana e hoje senti muita gente presente. Que já não sentia assim tão perto há bastante tempo. Demasiado.

Se eu podia viver sem amigos, sem família e sem quem me ama?

"Podia, mas não era a mesma coisa".

sábado, 12 de setembro de 2009

Asfixia democrática

Eu tinha prometido a mim mesmo que só voltaria aqui na segunda-feira. Mas não resisti.

Na tal viagem de 100 Km que tive que fazer (100 para lá e 100 para cá), a certa altura, nos quadros luminoso-informativos da brisa apareceu (juro que é verdade e que nunca tinha visto) "ATENÇÃO. PERIGO! ANIMAL A 16 KM".

Durante 16 Km andei a 100 Km/h não fosse aparecer um cavalo, um porco, uma ovelha, um hipopótamo.... sei lá!

Bicho não vi nenhum.

A única coisa que havia passados 100 metros dos tais 16 Km foi um "outdoor" gigante, com um dirigente partidário candidato às próximas eleições!

Lindo!

Qual asfixia, qual quê!!!

Ou balão de oxigénio democrático ou sabotagem democrática!

sexta-feira, 11 de setembro de 2009

As Sextas-feiras andam a perder o encanto

Estou com uma hora de sono, pois a papelada não estava ainda pronta, e tenho uma viagem de 100 Km para fazer.
Mas informo desde já que hoje vai ser um dia diferente. Todos aqueles que se cruzarem comigo na rua certamente irão reparar. (Estou ansioso)
Hoje olhando para mim verão que terei um cabelo "muito mais brilhante, forte e sedoso, fácil de desembaraçar", e minha pele tem "uma camada protectora".
É que com a pressa e o sono, enganei-me e usei o shampoo do cão.
As sextas-feiras não costumavam ser assim...

quarta-feira, 9 de setembro de 2009

Diálogos impossíveis..... mas reais.

- Bom dia!
- Bom dia.
- E o que vai ser?
- Queria um galão e uma torrada seca, por favor.
- Uma torrada quê?
- Seca.
- Seca?
- Sim. Uma torrada sem manteiga.
- Só um momento.
... (compasso de espera verdadeiramente constrangedor)...
- Olhe, manteiga não temos. Pode ser uma torrada sem margarina?

.... às vezes apetece tanto chorar em sítios públicos.....

Tudo é relativo


Como é óbvio e evidente ninguém, ou quase ninguém, fica feliz com a desgraça alheia. Eu, pelo menos, não fico.
Mas tenho que confessar que muitas vezes a desdita alheia faz-me relativizar a minha própria desgraça e faz-me ver, afinal de contas, que aquele meu problema não é uma hecatombe, que aquele meu azar não é, como eu pensava, comparável ao infortúnio de Jó, e aquela maleita não é nada em fase terminal.
Surge isto a propósito desta última madrugada, em que me vi metido numa alhada que incluiu urgências veterinárias, sangue, desesperos e tudo. O ambiente estava tenso e eu lanço uma daquelas frases infelizes, de circunstância, que não servem para rigorosamente nada mas alguém tem que as dizer:

- “Há horas do diabo!”

Ó santa coisinha que me foi sair da boca.

Um dos presentes (que não conhecia) conta o que lhe aconteceu vai para um ano. Os factos seguintes foram-me relatados na primeira pessoa. Os factos são dele. O léxico é meu. Não vou acrescentar nem mais um ponto ao conto.
Esse cristão tinha ido a uma festa com alguns amigos. No regresso a casa , um qualquer “fangio” vinha em contramão e direitinho a ele. Guinou para evitar o embate frontal. Galgou o passeio e ficou amparado por um poste.
Ainda estúpido de confuso, começa a ver os estragos do carro. Roda direita da frente empenada, umas amolgadelas e uns riscos.
Quando voltava para entrar, e por força da posição em que o carro tinha ficado, outro veículo que circulava em sentido contrário, encadeado, vem também direito a ele. Teve apenas tempo de se mandar para o passeio. Mas foi aterrar numa valeta. Que servia de drenagem a uma fossa.
Vê-se o nosso herói a sangrar do nariz e cabeça, por um lado, e a escorrer esterco, por outro.(Imagem linda e poderosa....)
Desnorteado, decide que o melhor é, o mais rapidamente possível, pôr o carro em casa e ir ao hospital.
Ligou os quatro piscas, e com o carro a desconjuntar-se e a fazer barulhos tipo maracas e “nheca nheca” lá foi quase a 20 à hora para casa.
Mas quando finalmente estaciona, repara que atrás dele pára também o carro da polícia que o tinha vindo a seguir dado o comportamento estranho de condutor e conduzido.
Sai, mostra a documentação e é convidado a ir até à esquadra onde depois de dois dedos de conversa e tão só uma “bufadela” paga prontamente a multa pelo excesso de álcool.
Muito tempo depois consegue chegar às urgências. No carro da policia, que lhe deu boleia....
Ora digam lá . Afinal até nos nossos dias mais cinzentos, comparativamente, ainda há raios de sol.

segunda-feira, 7 de setembro de 2009

Os senhores vendedores

Sério demais para que se solte uma piada.

O mal de ter costumes instituídos desde mais tenra idade quanto à higiene das orelhas e ouvidos é um tipo sujeitar-se a ouvir o que quer e o que não quer.
Estava eu sentado na esplanada do café aqui à porta de casa, quando na mesa ao lado se sentaram três sujeitos na casa dos vinte e muito poucos. Não fiz por ouvir a conversa, mas o volume era tal que era impossível não o fazer.
Eram vendedores, promotores ou comerciais de uma operadora de televisão por cabo. Por acaso é a empresa com a qual contratei o serviço cá de casa e com a qual não estou minimamente satisfeito, mas isso são contas de outro rosário.
Bem sei que são explorados, bem sei que muitas vezes são empregos (precários) de recurso quando a licenciatura que eventualmente têm não lhes proporcionou a vida profissional que sempre almejaram, bem sei que lhes incutem valores com os quais não concordo, bem sei que recebem parte substancial da remuneração em regime de comissões. Bem sei.
Mas isso não implica nem legitima que tratem as pessoas que acedem a abrir-lhes a porta e a ouvi-los, que no fundo são quem os sustenta, como se de otários de tratassem.
A estas alminhas já lhes corre no sangue a filosofia do mais vale enganar que ser sério. Discorreram em alta voz sobre as casas que visitaram, teceram comentários sobre o que as pessoas tinham em casa e seus gostos de decoração, sobre o aspecto físico das pessoas, gozaram que nem perdidos com o contrato que conseguiram “sacar” a uma “velhota” de 76 anos. Que a puseram com 100 canais e internet de 10Mb com tráfego ilimitado. Essa senhora poderia ser a Avó deles, e já não há o mínimo de discernimento e respeito por quem já não tem idade para (nem merece) ser enganado.
Essa senhora podia ser minha familiar, amiga, conhecida ou afim. Duvido que essa senhora saiba sequer onde se liga um computador, quanto mais para que serve a internet.
E os energúmenos debitavam, entre gargalhadas, estórias (que não histórias) das suas hercúleas façanhas da arte de enganar.
Para dizer a verdade, no fim da conversa, só me apeteceu rescindir o meu contrato, e reduzir-me à realidade com que nasci e cresci no período fulcral da formação da minha personalidade, que foram os canais em sinal aberto (e durante alguns anos, apenas os dois estatais). E não me fez mal nenhum.
Por essa senhora, que agora se vê com papéis auto-copiativos de várias cores com a sua assinatura no fundo, com versos cheios de letras pequeninas que nunca conseguirá ler, sem ter percebido ainda muito bem o que fez, sinto-me triste.
Por esta história (que não estória) entrou-me uma pedrinha na alma . E sabe Deus quão difícil será tirá-la de lá.

domingo, 6 de setembro de 2009

Socorro!

Carta aberta a quem possa fazer alguma coisa. Urgentemente!


Com este, são sete os fins-de-semana que não passo sossegado (assim o canídeo esteja virado para adorar Morfeu, coisa rara), no sentido em que não estou em casa. Ou são viagens, ou são casamentos em terras longínquas, ou são aniversários fora de mão, ou são férias, ou, no caso do presente fim-de-semana, o encontro anual da família materna.
Com efeito hoje foi o 14º encontro. Rapidamente passo o episódio do tormento da manhã (vide 2º post deste vosso servo) para chegar à cidade anfitriã do encontro deste ano: Pinhel - cidade portuguesa, pertencente ao Distrito da Guarda, região Centro e subregião da Beira Interior Norte, com aproximadamente 2.578 habitantes...
Ora, as forças cósmicas estavam todas conjugadas para proporcionar um esplêndido dia, como nos 13 anos anteriores.
Chegados ao pequeno complexo onde se realizaria o encontro, ainda mal habituava os meus pulmões ao ar verdadeiramente são das Beiras, começam a ressoar nos troncos sossegados dos imponentes castanheiros que ali reinam desde sempre, umas quantas buzinas. Normal, penso. Um burgesso que fez uma manobra típica, gente que se adianta umas horas na comemoração da vitória da Selecção Nacional sobre a Selecção Viking (a esta hora o jogo, que ouvi na telefonia, já terminou e recusar-me-ei a tecer qualquer comentário ao resultado).
Não.
Paulatinamente as buzinas foram-se aproximando, e a encabeçar o cortejo de poluição sonora, eis que entra no parque de estacionamento uma carripana asfixiada em tule branco – franca e notória poluição visual – seguido de um sem número de carros também devidamente decorados (ou indecorosos). Um casamento tipo “marriage”!!!!!!!!!! A ter lugar na sala ao lado da nossa!
Medo. Muito medo!
Rapidamente procuro nos bolsos um comprimido de Arsénio. Nada.
Corro ao bar e pergunto se têm cicuta. “Só Coca-cola, martini, gin, água tónica, sumos ou vinho, senhor. Disso não temos”.
Facas afiadas para cortar os pulsos, também não havia.

Pois bem, e resumindo muito, pois enquanto escrevo estas linhas já me levantei três vezes para ir vomitar com a força das imagens que o meu cérebro insiste em repescar, e não aguento muito mais neste estado de nervos, digo:

- Que o noivo e a noiva devem ter atingido a maioridade ontem;
- Que ela se não estava muito grávida ou muito gorda, estava seguramente a esconder simultaneamente a mesa dos enchidos, a dos queijos e a dos doces debaixo do vestido;
- Que ninguém explicou ao noivo que um fato dourado só se usa quando se quer utilizar militarmente a táctica do quadrado, num dia de sol, para cegar o adversário;
- Que a meia branca não ajuda a compor o ramalhete;
- Que a “tupperware party” ontem na localidade deve ter sido um sucesso comercial a avaliar pela procissão de gente que ia enchendo as malas dos carros;
- Alguém avise aquela gente, por caridade, que há que ter cuidado com a quantidade de rissóis, croquetes e chamuças que põem nos bolsos dos casacos e carteiras, porque facilmente, com pouco movimento, caiem sempre um ou dois e dá nas vistas;
- Que os palitos, meus senhores, não são para colar ao canto da boca e aí permanecer indefinidamente;
- Que fatos de lã, com colete, além de já terem passado de moda, só se usam no Inverno;
- Que mesmo que às Senhoras doam os pés, não se muda para “crocs” violetas durante as festividades;
- Que um desodorizante custa menos que um maço de tabaco. E dura mais;
- Que não vale comprar as mesmas capas de edredon que eu para fazer vestidos;
- Que convém às moças depilarem pelo menos as pernas antes de diminuirem publicamente a minha masculinidade;
- Que ir de galochas e calças de ganga pode não ser boa ideia;
- Que depois do caldo verde convém (mera sugestão) ver se não há fios de couve pendurados nos dentes ou nos bigodes (deles e delas).


Posto isto:

- A minha refeição soube-me a cortiça;
- O convívio familiar ficou inquinado;
- Já lá vai uma embalagem inteirinha de Eno e a azia não passa.

E agora o meu repto, a quem de direito, e que tenha algum poder:

Não se pode proibir isto? Não podemos introduzir a lógica dos Kolkozes e dos Solfkozes para estas coisas?
Se os sujeitos de etnia cigana têm direito a terrenos só para eles, longe de tudo e de todos, se aos judeus foi dado um território inteiro para lá fazerem o seu país, se já há salas de chuto, se há hectares e hectares de terras (queimadas ou não) longe de sítio nenhum, livres e disponíveis para estes cultos, NÃO OS PODEMOS MANDAR TODOS PARA LÁ???????? RAPIDAMENTE E EM FORÇA??? (se aceitarem sugestões de locais, conheço um que seria perfeito. No meio de imensas árvores, passarinhos, ribeiras e verde. Chama-se CAMPO DE TIRO DE ALCOCHETE!!!! E está tão na moda.....).

sexta-feira, 4 de setembro de 2009

O País que temos

Muita coisa se poderia dizer sobre os últimos dias, os últimos meses, os últimos anos da vida política e (des)governo deste país. Mas não vou dizer nada. Deixemos os intervenientes falarem por si.
Em Outubro de 2004, o Sr. Pinto de Sousa (Hoje Senhor Engenheiro Sócrates, Primeiro-Ministro e querido líder) estava na bancada da oposição.

Ouçam-no e vejam-no atentamente, e tirem as vossas ilações.




É preciso ter lata..... Xiça!!!

Nas eleições... há-des ver há-des!!!!

Aviso (é mais um pedido)

Não é que as fotografias que vou colocando aqui sejam obras-primas. Sei que nunca vão ganhar prémios, mas são minhas, fui eu que as tirei, são parte de mim. Por obséquio e educação peço que não sejam utilizadas sem a minha autorização. Obrigado.

Sartre foi a banhos





Na minha ida às ilhas de bruma (da qual ainda não falei, mas não perdem por esperar) levei como amigo “Gente de Dublin”, do Joyce (juro que já tentei ler a “Odisseia” dele uma 54 vezes, mas nunca passei da página 30 e não entendo porquê). E isto é só para que conste, porque o que verdadeiramente interessa é o amigo que levei para terras afro-árabes. Pois que depois de muito cogitar, decidi levar um opúsculo do grande Sartre. Já tinha lido “A Náusea”, o seu primeiro romance, que escreveu precisamente com a idade que tenho agora, mas já há muito. Achei que era altura para o reler.
Pois bem, o pobre do livro está num estado digno de lástima graças à areia, pingos de água salgada, protector solar e outras matérias que ainda não percebi bem o que são e que mesmo que as queira tirar, seguramente não vão sair.
E agora, a grande novidade: Fiquei na página 30!
Ora não é este mesmo João Paulo o moço que é considerado o pai do existencialismo?
Não era este gaiato que preconizava a primazia da existência sobre a essência?
Da vivência subjectiva sobre o conhecimento objectivo?
Da experiência vital e individual sobre o sistema conceptual?
Pois bem! Foi o que fiz!


Grande Jean-Paul! És o maior!


Gozei a minha praia, a viagem e as visitas que fiz, bebi umas quantas cervejas, e mandei às malvas as leituras.
E gostei.

quarta-feira, 2 de setembro de 2009

É frutóooo chocolate




Verdade seja dita que a oferta comercial ululante pelo areal é incomensuravelmente diferente da que sempre estive habituado no vetusto Algarve. Sim, está certo que há anos e anos o "Mustafá" (nunca soubemos o seu verdadeiro nome) calcorreia o areal da praia desde Monte Gordo a Manta Rota vendendo “escarpet, maria”, “oroloj bon” e “ocles moda”. Ora os auctóctones aqui também contam com lenços e pseudo-artesanato. Contudo, e agora vem a grande diferença, é que enquanto na nossa terra sem um tipo dar por isso chega o exército dos “bolinhaaaaaaaaas, com creme e sem creme”, “pastéis de nata, pastéis de amendoaaaaaaaa”, por estas bandas africanas (insisto nisto até que os dedos me doam), há uns moços que trazem e tentam vender.... fruta fresca! Ele é mangas, ameixas, bananas, uvas e outros frutos com ar verdadeiramente saudável e delicioso,não fosse andarem a fazer isso debaixo de 45 graus e eu poder adivinhar que o efeito de comer uma frutinha assim tão boa e fresca, será o equivalente a tomar de “penalty” 5 doses de laxante para elefante.
Agora o que verdadeiramente surpreende é que de meia em meia hora aparece um senhor agente da autoridade montado a cavalo que zela pela segurança de tudo o que é turista como eu, num vai-vem pela praia. O desgraçado vendedor de fruta ainda tenta esconder-se atrás dos bares e estruturas de praia, mas a autoridade, com a sua sagacidade a cavalo, depressa o vislumbra e chama.
Discutem um pouco e o tipo montado na cavalgadura insiste que o outro o terá que seguir para pagar uma multa. E começa a procissão. Cavalo, polícia, fruta e vendedor pelo areal fora até ao posto da autoridade.
Invariavelmente também, poucos minutos depois, o vendedor regressa ao seu calvário, apregoando as virtudes da mercadoria, não sabendo eu se o haveria de admirar pela perseverança, se pela estupidez de teimosia.
E a história repete-se durante horas....
Antes de me virar para o outro lado e adormecer de cansaço cerebral, chegou-me a resposta clara e óbvia:
Ou o negócio rende como o caraças, ou a multa é a preço de banana.

Música para todos


O CD




No meu mais perfeito babilonês (a língua coloquial e comercial utilizada na Tunísia, que – descobri - no fundo é uma mistura de Árabe, Francês, Português, Espanhol, Inglês, Italiano, com uma boa dose de sotaque Alemão e um toque de Esquimó) virei-me para a moça da barraca da medina onde entrei e peço-lhe um CD com música típica, mas moderna. Daquela que se ouve no Hotel, no bar da praia e nos bares e cafés lá daquelas bandas. Que as gerações novas ouvem e as antigas não decretam intifadas contra quem as compõe.
Qual coruja em cima de uma árvore seguindo a presa, ela fita-me com um olhar penetrante como de quem bebe, sorvo a sorvo, deliciada, as minhas palavras e o que pretendo. Anui com a cabeça, faz um dos sorrisos mais bonitos que já vi, e desaparece por trás de uma cortina.
Ouço um espirro.
Três segundos depois aparece-me com uma fabulosa caixa castanha clara, cor do deserto.
Pega num pano (que por acaso era um xador exposto para venda) e passa por cima da dita caixa.
Era pó. Por baixo uma caixa normalíssima de CD, de plástico.
Entrega-ma como quem entrega uma relíquia que há muito esperava que “o filho do profeta” (conforme as escrituras) a viesse buscar.
Olho, com lágrimas nos olhos (devido à poeira que ainda pairava no ar) para o que docemente me coloca nas mãos.
De forma a não ferir aquela odalisca, explico que o que pretendo não é música para casamentos muçulmanos ( a capa deve ser proibida na Europa, pois mostrava um noivo de bigode engraxado rodeado de sete noivas de tules com cores que no mínimo devem servir para repelir insectos durante a boda ou para evitar olhares lascivos dos demais convidados).
Volta a desaparecer por trás da cortina, e aí o medo começa a apoderar-se de mim e, em vão, procuro um sinal luminoso verde com os dizeres EXIT.
Estou tramado.
Ressurge, com outro CD nas mãos. Desesperado, parece-me já (muito mais ou menos) o que quero. Sem hesitar, regateio o preço sem grande convicção e com a firme certeza que com o que lhe paguei, matei a fome à sua família até 2023.
Acabei, agora mesmo, de o pôr no leitor, com muita emoção e com o coração aos pulos.

Carreguei no "play".

Quem quiser ouvir a “Booomba!!!”, “La Isla bonita” e a “Macarena” com ritmos árabes e um tipo a queixar-se em árabe, aos berros, no fim do terceiro dia consecutivo de cólicas intestinais, avise-me, que eu empresto a merda do CD.

terça-feira, 1 de setembro de 2009

África

África minha.... ou África tua... ou de quem a apanhar.

Vou a África, pensei.

África!

Quem me conhece sabe que este continente sempre me causou um fascínio inexplicável. Tenho muitas viagens de sonho, continentes e países que não quero fechar os olhos para sempre sem que neles derrame uma lágrima com a ilusão de que nesses sítio fica uma parte de mim. E que, evaporando a água dessa lágrima, juntar-se-à a tantas outras gotículas de sofrimento ou alegria, que um dia cairão sob a forma de chuva, dando de beber à vida em si. E eu farei parte desse grande porvir.
O que encontrei , o que vi e visitei não é a minha África. Explicarei mais tarde o porquê. Não é que não tenha gostado, ou que tenha vindo frustrado. Não. Adorei, vivi intensamente coisas novas. Apenas não é esta ainda a minha África, a África das histórias do meu Avô Alberto, da minha Avó Maria Augusta e que me punham a sonhar de olhos bem abertos, hipnotizado e quase sem respirar. Não são as histórias da meninice da minha Mãe, que devoro cada vez que ela, ainda hoje, as conta.
Estive uma semana na Tunísia. É geograficamente África. Tão só.

E foi assim

Bem, eis-me de regresso. Imensas novidades sobre estes dias.
Porei a partir de agora algumas impressões, experiências, vivências e pensamentos acerca destes dias de ócio.
A ordem não é necessariamente cronológica ou sequenciamente lógica.
O critério do que será utilizado é no entanto, avisa-se, o seguimento escrupuloso de algo muito cogitado e com um fundamento absolutamente rigoroso:

É o que, e como, me apetecer.