quarta-feira, 2 de setembro de 2009

Música para todos


O CD




No meu mais perfeito babilonês (a língua coloquial e comercial utilizada na Tunísia, que – descobri - no fundo é uma mistura de Árabe, Francês, Português, Espanhol, Inglês, Italiano, com uma boa dose de sotaque Alemão e um toque de Esquimó) virei-me para a moça da barraca da medina onde entrei e peço-lhe um CD com música típica, mas moderna. Daquela que se ouve no Hotel, no bar da praia e nos bares e cafés lá daquelas bandas. Que as gerações novas ouvem e as antigas não decretam intifadas contra quem as compõe.
Qual coruja em cima de uma árvore seguindo a presa, ela fita-me com um olhar penetrante como de quem bebe, sorvo a sorvo, deliciada, as minhas palavras e o que pretendo. Anui com a cabeça, faz um dos sorrisos mais bonitos que já vi, e desaparece por trás de uma cortina.
Ouço um espirro.
Três segundos depois aparece-me com uma fabulosa caixa castanha clara, cor do deserto.
Pega num pano (que por acaso era um xador exposto para venda) e passa por cima da dita caixa.
Era pó. Por baixo uma caixa normalíssima de CD, de plástico.
Entrega-ma como quem entrega uma relíquia que há muito esperava que “o filho do profeta” (conforme as escrituras) a viesse buscar.
Olho, com lágrimas nos olhos (devido à poeira que ainda pairava no ar) para o que docemente me coloca nas mãos.
De forma a não ferir aquela odalisca, explico que o que pretendo não é música para casamentos muçulmanos ( a capa deve ser proibida na Europa, pois mostrava um noivo de bigode engraxado rodeado de sete noivas de tules com cores que no mínimo devem servir para repelir insectos durante a boda ou para evitar olhares lascivos dos demais convidados).
Volta a desaparecer por trás da cortina, e aí o medo começa a apoderar-se de mim e, em vão, procuro um sinal luminoso verde com os dizeres EXIT.
Estou tramado.
Ressurge, com outro CD nas mãos. Desesperado, parece-me já (muito mais ou menos) o que quero. Sem hesitar, regateio o preço sem grande convicção e com a firme certeza que com o que lhe paguei, matei a fome à sua família até 2023.
Acabei, agora mesmo, de o pôr no leitor, com muita emoção e com o coração aos pulos.

Carreguei no "play".

Quem quiser ouvir a “Booomba!!!”, “La Isla bonita” e a “Macarena” com ritmos árabes e um tipo a queixar-se em árabe, aos berros, no fim do terceiro dia consecutivo de cólicas intestinais, avise-me, que eu empresto a merda do CD.

3 comentários:

  1. hahahahhahahahahhahahahahhahahahahahahaha

    Nem uma foto retrataria melhor a imagem escrita no post.

    hahaha....

    Eduardito

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  2. Quem te manda a ti seres, tu próprio, meio chamiço??
    Claro que a odalisca basculante pensou que estivesses a gozar e lá te provou que ela também é muito brincalhona!!!!

    Seja como for, vou querer ouvir, claro... Sabes que eu não (te) posso ver nadinha!!!!

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  3. OMG que riso! Colicas intestinais!! Demais, os meus sinceros parabéns!

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